A melhoria das condições de mobilidade e transitabilidade no Município da Matola marcou os primeiros 100 dias de governação, conforme sublinhou ao domingo o presidente daquela autarquia, Calisto Cossa.
Empossado a 7 de Fevereiro passado no cargo de presidente do Município da Matola, Calisto Cossa dirige uma região em franco crescimento, e, por tabela, com múltiplos desafios pela frente.
Vias de acesso, gestão do solo urbano, recolha de resíduos sólidos, transporte e expansão da energia eléctrica são preocupações quotidianas dos munícipes, daí se destacarem na entrevista que se segue com o edil da Matola.
Sr. Presidente, já passam 100 dias de governação. Foi possível realizar o planificado?
Globalmente foi possível, mas tivemos dificuldades de implementar o nosso programa dado que iniciamos o mandato em plena época chuvosa. Choveu bastante nos meses de Fevereiro e Março, o que acelerou a degradação de vias de acesso, para além de que muitas famílias ficaram sem abrigo.
Todos os anos chove e somos confrontados com o mesmo cenário de reassentamento de famílias. Não há solução definitiva para este problema?
Existem soluções e estamos a implementá-las. Este ano abrimos dois centros de acomodação nos bairros Bunhiça e Ndlhavela, onde chegamos a ter perto de 200 famílias. Estamos a enquadrar as famílias em novas áreas seguras. Temos casos de famílias que construíram em áreas impróprias, no caminho natural das águas, isso acontece em bairros como Liberdade, Bunhiça e Nkobe. Estamos a transferir as famílias mas também a fazer estudos para a construção de drenagens. No caso do bairro da Liberdade, acreditamos que se concluirmos o projecto da drenagem até ao bairro do Fomento, a situação vai melhorar significativamente. Também estamos a equacionar a construção duma drenagem na Machava, que pode aliviar as populações de bairros como MachavaBedene, Singhatela e Bunhiça.
VIAS DE ACESSO
Falou da danificação de estradas. Vias importantes como as avenidas das Indústrias e Josina Machel estiveram intransitáveis. O município não tem capacidade de manter as estradas até atingirem aquele péssimo estado?
Foram situações adversas que não nos permitiram intervir em tempo oportuno devido às chuvas, mas logo que as condições naturais o permitiram reabilitamos as duas vias. Em alguns casos trabalhamos 24 horas por dia.
Foi preciso uma greve dos “chapeiros” para reabilitar as vias?
Não! Nada disso! Nós próprios entendemos que havia necessidade de reabilitar aquelas estradas, mas, como disse, as chuvas não permitiam. Julgamos que até houve exageros dos transportadores porque estavam devidamente informados do nosso plano de trabalho. Repare que não terminamos naquelas reabilitações, asfaltamos a avenida da Liberdade, que liga os bairros Matola B, G, F e H. Foi uma intervenção de raiz. Na baixa da cidade da Matola fizemos a resselagem de três avenidas e ainda intervimos em várias estradas de terra. Tornou-se muito fácil aceder à zona baixa da cidade da Matola.
Qual é o pensamento do município sobre as estradas de terra? Há planos de pavimentar?
O programa de pavimentar as vias existe, mas, como deve calcular, a Matola tem muitas estradas a precisar de intervenção. Os fundos são insuficientes para as necessidades. Por isso, o nosso pensamento é garantir antes de tudo a mobilidade e transitabilidade dos munícipes. Se tiver que ser com a terraplanagem das vias, assim será, porque é uma solução viável, desde que a manutenção seja rigorosa. Foi neste contexto que reabilitamos a estrada ligando a EN4 e o bairro Machava-Socimol, passando pelo bairro Tsalala, numa extensão de quase cinco quilómetros. Hoje os transportadores semi-colectivos retomaram aquela rota. Estamos a facilitar as ligações inter-bairros. Melhoramos a ligação Liberdade – Machava através da estrada conhecida por Sasseka – Mafureira e estamos a concluir a reabilitação da via ligando a EN1 aos bairros Khongolote, 1º de Maio, Mapandane, Matlhemele e Muhalaze. São vias que paulatinamente estão a mudar a acessibilidade na Matola.
Como é que a direcção do município encara o fenómeno do engarrafamento nas estradas?
Quando reabilitamos as vias que mencionei e outras no nosso plano, um dos objectivos é justamente reduzir o congestionamento de tráfego que se regista na EN4. Por exemplo, entendemos que a Estrada Velha da Matola, avenida União Africana, é uma das soluções para os munícipes chegarem à cidade de Maputo. Estamos a finalizar detalhes administrativos para uma reabilitação profunda da estrada velha. Por enquanto garantimos a circulação normal das viaturas.
A esse fenómeno está ligado o transporte. Como está a saúde da Empresa de Transporte Público da Matola?
A empresa acaba de entrar em actividade, com os primeiros autocarros recebidos da extinta TPM. A nossa visão é de paulatinamente reforçarmos a frota e abrirmos carreiras inter-bairros da Matola. Naturalmente que é um trabalho que vamos articular com outras entidades. Vamos apostar numa boa manutenção da frota existente para podermos crescer. Começamos as actividades com 13 autocarros, o que é manifestamente reduzido para a demanda. Sabemos que o sucesso desta empresa será também determinado pelas condições das estradas.
Como foi a participação do empresariado da Matola na governação nestes 100 dias?
O empresariado respondeu à altura. No Posto Administrativo da Machava, por exemplo, realizamos intervenções nas vias de acesso com a participação dos agentes económicos daquela área. Iniciamos um programa de reabilitação de campos desportivos com o apoio do empresariado. Estamos a apoiar escolas primárias com carteiras na base de parcerias. Nestes 100 dias foi possível entregarmos carteiras a cinco escolas que as crianças estudavam sentadas no chão. Também apoiamos a pessoa portadora de deficiência com cadeiras de rodas. Temos tido uma participação social permanente junto das famílias mais carenciadas. Foi também com ajuda dos empresários que iniciamos o programa de reabilitação de campos desportivos. Até ao final do mandato, cada um dos 42 bairros terá seu próprio campo para as diversas modalidades desportivas.
Queremos novos
pólos de desenvolvimento
A Matola continua a ter muita terra?
Depende de que terra se está a referir.
Há um pensamento de que Matola é um município que tem bastante terra para habitação.
O nosso pensamento é criar novos pólos de desenvolvimento na Matola em bairros como Muhalaze, Matlhemele, Matola-Gare e Siduava. Pensamos que algumas zonas terão construções em altura e estamos em contactos com vários parceiros para viabilizar projectos imobiliários que favoreçam aos munícipes. Para nós dar terreno a jovens em zonas não infra-estruturadas não é solução para o problema de habitação. É preciso combinar a atribuição de terreno com outras intervenções.
Um dos desafios dos novos bairros é a energia eléctrica. Que respostas o município tem dado a esse nível?
Estamos em articulação permanente com a Electricidade de Moçambique e devo dizer que há resultados no terreno. Bairros como Intaka e Muhalaze já se estão a beneficiar do nosso trabalho, embora ainda faltem alguns quarteirões por eletrificar.
No início do mandato anunciou a transferência temporária de seu gabinete de trabalho aos bairros. Como está a ser esta experiência?
Temos tido ganhos a partir da interação permanente com os munícipes. O nosso grande objectivo era identificar problemas e encontrar soluções locais. Felizmente os resultados são positivos. Trabalhamos com vários grupos. Por exemplo, as respostas dos agentes económicos são encorajadoras na solução de alguns problemas, incluindo a reabilitação de estradas. O diálogo com as populações nos inspira a encontrar soluções adequadas para os problemas.
Minimizamos o impacto
da lixeira de Malhampsene
Como avalia a recolha de lixo na Matola?
Está relativamente melhor, mas ainda não estamos satisfeitos. Por isso, temos aberto um concurso público para a aquisição de mais meios de recolha, nomeadamente 15 tractores, a serem alocados aos postos administrativos. Temos zonas que os camiões não têm acesso, e nesses casos estamos a interagir com jovens para retomarem a recolha através de tchovas até determinados pontos.
Algumas vezes a lixeira de Malhampsene estende-se até a estrada.
Faz parte do passado, adoptamos um novo modelo de gestão da lixeira de Malhampsene, com uma nova entrada e saída, que permite o depósito do lixo no interior da lixeira. Futuramente, a lixeira será uma fonte de receita para o próprio Conselho Municipal. Vamos cobrar pelo depósito de lixo.
A Matola conta apenas com uma lixeira agora. É suficiente?
O município é extenso, por isso reabrimos a lixeira de Khongolote, que tem condições para atender aquela zona. Corrigimos uma situação com a qual não concordamos. Estamos a trabalhar tendo em conta o projecto de construção do aterro sanitário no bairro Matlhemele, e o nosso Governo já rubricou um contrato com os financiadores. Continuaremos a interagir com privados para garantir a recolha de lixo nalguns bairros. A cidade está a crescer e entendemos que é preciso continuarmos a terceirizar alguns serviços.
Recentemente abordou a possibilidade de conclusão das obras de construção do cemitério de Ndlhavela, como está o processo?
Não avançámos muito. É preciso dizer que já existe um projecto de construção do cemitério, que estava a ser implementado em parceria com o Município do Maputo. Por razoes que desconheço, o projecto não foi concluído. É uma questão de com nossos recursos concluirmos, uma vez que Maputo partiu para a construção dum novo cemitério em Michafutene. A área está devidamente demarcada, mas com o tempo houve algumas famílias que construíram no espaço reservado ao cemitério. Estamos a corrigir essa situação. Os enterros estão a decorrer naquele cemitério com assistência de funcionários do Conselho Municipal. Nossa ideia é vedarmos o cemitério e construirmos uma capela.