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“Estamos prevenidos!”

Por admin

O começo do ano é feito de preocupações associadas à época chuvosa e ciclónica, eventos naturais que marcam o nosso verão. Nas instalações do Instituto Nacional 

de Gestão de Calamidades (INGC), já não se prega o olho. Com recurso a meios tecnológicos de última geração, faz-se vigilância ao comportamento da natureza no que respeita ao vento, calor, chuva, níveis dos rios, entre outros, sempre obedecendo à máxima de que “mais vale prevenir do que remediar”.

 

A lenga-lenga das festas de Natal e de Fim do Ano já é assunto do passado. Agora as atenções estão viradas para o começo do ano lectivo que, em muitos casos, corresponde a dias e noites de aflição para os pais e encarregados de educação que querem ver os seus filhos e educandos encaixados em alguma sala de aulas.

Envoltos em tamanha correria, poucos se dão conta de que estão a atravessar o período de pico das chuvas e de formação de ciclones, cujo impacto tem sido devastador sobretudo nas machambas, e para os que vivem em habitações precárias, margens dos rios, zonas costeiras, entre outros locais vulneráveis.

Exemplos de situações de calamidades naturais não nos saem da memória. Tempestades como “Nádia”, “Funso”, “Demoína” e “Fávio, bem como as cheias que rebentaram com as margens do rio Limpopo e seus afluentes nos primórdios do ano 2000, e as que se abateram sobre os rios Zambeze, Púngué e Búzi nos anos seguintes, demonstram que por estas alturas do ano, todo o cuidado é pouco.

Por estes meses, um dia de intenso calor, daqueles que empurram toda a gente para as praias, num ápice, se pode transformar numa data trágica, devido à formação instantânea de vendavais capazes de deitar abaixo aldeias inteiras em um máximo de 30 minutos.

De igual modo, em poucas horas de chuva, habitações, escolas, unidades sanitárias, vias de acesso, incluindo grandes avenidas do meio urbano, podem ser arrastadas e se transformarem em medonhas ruínas, tal como aconteceu no ano 2000, quando a zona sul do país foi afectadas pelas piores cheias de que há memória.

 

Prevenidos!

 

As acções de prevenção para a presente época chuvosa e ciclónica começaram bem antes. O Conselho de Ministros aprovou em tempo um orçamento de 120 milhões de meticais para a cobertura das despesas afins. Este valor já se encontra à disposição do INGC e dos governos das províncias que registam calamidades com muita frequência.

No mesmo quadro, o INGC accionou o seu sistema de vigilância meteorológica, o qual funciona 24 horas ao dia para que nenhum evento natural previsível, como chuvas monstruosas, ciclones e tempestades tropicais e cheias se abatam sobre o país sem que se possa prevenir a população.

Aliás, mesmo para eventos como tremores de terra, que são menos susceptíveis de previsão, estão a ser monitorados pelos peritos do INGC naquela sala cujas paredes estão repletas de mapas de áreas vulneráveis a calamidades naturais.

Conforme testemunhámos no local, as equipas que ali trabalham estão conectados aos sites de busca da Internet com os sistemas mais avançados e rápidos de processamento de dados. Por exemplo, a nossa equipa de Reportagem observou a rota da tempestade Dumile que se formou na parte Este de Madagáscar e viu nascer uma outra depressão da categoria “d” um pouco mais a norte do Madagáscar.

Naquela “central” estão disponíveis os mais variados meios de comunicação, a começar pelo sistema de rádios transmissores, telemóveis, telefones fixos, Internet, televisão, fax, enfim, tudo o que permita que a informação chegue e seja disseminada num instante.

Cá fora, existem 750 comités de gestão de risco de calamidades naturais criados em áreas tidas como vulneráveis à ocorrência de desastres, os quais foram instruídos a conhecer de cor e salteado todos os procedimentos de segurança, evacuação e salvamento, bem as rotas e seguir em caso de registo dos diferentes tipos de eventos.

Determinado a evitar que ocorram tragédias, o INGC terá se desdobrado em acordos de parceria com as diferentes associações de pescadores que manifestaram total disposição em colocar as suas embarcações ao serviço do Centro Nacional Operativo de Emergência (CENOE), braço executivo do INGC.

Mesmo a propósito de embarcações, João Ribeiro disse que os centros de Comando estabelecidos em Maputo, Vilankulo, Caia e Nacala contam com um total de 93 barcos de resgate que poderão ser usados logo que a situação justifique.

No quadro dos esforços para evitar que os moçambicanos morram em situações que podem ser controladas, consta que o Aeroclube de Maputo também se ofereceu para prestar o seu apoio ao INGC através da colocação de meios humanos (paraquedistas) e materiais em locais de risco.

Pura inovação foi o envolvimento do sector privado, através da Confederação das Associações Económicas (CTA) que, a partir deste ano, passará a actuar como parceiro do INGC na criação de stock de alimentos e outros produtos básicos para as comunidades que eventualmente possam ser afectadas por calamidades. “Estamos melhor organizados”, acredita João Ribeiro.

 

850 casas destruídas antes do pico

 

O verão começa a manifestar-se com em Outubro, altura em que as temperaturas se elevam e a chuva cai “por tudo e por nada” e se estende até finais do mês de Março. Porém, os ciclones começam a formar-se e a fazer das suas entre Janeiro e Março.

Segundo o director geral do INGC, João Ribeiro, a presente época quente começou com uma precipitação acumulada de 200 a 300 milímetros nas províncias de Maputo, Zambézia e Nampula, ao mesmo tempo que Gaza, Manica e parte de Sofala registaram chuvas na ordem de 100 a 200 milímetros. Porém, em Tete, Inhambane e Cabo Delgado choveu abaixo de 100 milímetros.

Entretanto, segundo a mesma fonte, as temperaturas foram bastante altas em todo o país, o que originou a formação de fortes vendavais, daqueles que duram entre 20 e 30 minutos e que deixam sérios rastos de destruição. Até agora, o INGC registou 850 casas e 21 salas de aula destruídas.

“Porque até ao momento não registamos situações de grande devastação, deixamos que os governos locais respondessem com o apoio dos comités locais de gestão de calamidades que estão treinados para orientar as comunidades”, disse Ribeiro.

Desta vez, o que parece jogar a favor do país é o facto das actualizações de dados meteorológicos indicarem que se está numa fase intermédia entre efeitos do El Nino (fraca precipitação) e El Nina (ciclones e bastante chuva), o que, por outras palavras, pode significar a ausência de fenómenos severos. “Mas atenção. Isso não significa que não haja riscos”, afirma.

Com base na actualização mais recente, as províncias de Maputo e parte da província de Gaza poderão registar chuvas abaixo do normal, como tendência para o normal. A parte norte de Gaza e Inhambane, poderão ter chuvas normais, mas a oscilarem para abaixo do normal. Por seu turno, a zona centro e norte poderá assistir a ocorrência de chuvas normais com tendência a acima do normal.

Sendo assim, os esforços do INGC estão agora centrados nas bacias dos rios Zambeze, Messalo, Lúrio e Licungo, bem como para a costa da província de Nampula que apresentam risco alto de cheias. Mas isso não significa que se tenha baixado a guarda em relação às restantes bacias, com particular destaque para Púnguè, Save, Limpopo e Maputo que apresentam risco médio.

“O que é mais importante é a prevenção que passa pela sensibilização das comunidades, através dos comités locais de gestão de risco, e pela monitoria que estamos a levar a cabo como o Instituto Nacional de Meteorologia e a Direcção Nacional de Águas (DNA), disse Ribeiro.

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