Texto de André Matola
Quase toda a gente o conhece em Nelspruit (Mbombela), incluindo o pessoal do consulado moçambicano naquela cidade. Chama-se Edgar Paiva. Tem 37 anos. É um dos jovens empreendedores moçambicanos bem sucedidos por aquelas paragens.
Saltou a fronteira para a terra do rand corria o ano de 1995, na companhia de alguns amigos de circunstância. Tinha apenas 17 anos. Para trás deixou a sua terra de coração, o bairro da Machava, onde vivia com o pai.
Começou por trabalhar numa farma de cana-de-açúcar em Komatiport. Tinha de sobreviver. Deram-lhe a tarefa de remover a erva daninha e cortar capim para o correcto crescimento das plantas a troco de 150 randes. Cumpriu sem queixumes.
Porque os cortadores de cana-de-açúcar mensalmente recebiam entre 180 e 200 randes, pediu ao encarregado da farma para que lhe afectasse naquele posto. Aceite a sua petição e porque era disciplinado, trabalhador abnegado e obediente, rapidamente chegou aos 350 randes por mês.
“ Para poder amealhar aquela quantia, eu ultrapassava a quota diária que me era estipulada. Também trabalhava aos sábados e domingos”, conta.
O giro por algumas lojas de Komatiport aos fins-de-semana resultou numa sincera e profunda amizade com um proprietário de lojas onde frequentemente fazia as suas compras.
“Convidou-me a trabalhar para ele, o que aceitei com muito gosto. O meu salário cresceu para 1200 randes, além de que me ofereceu um sítio para dormir. Aos domingos, e sem que ele me tivesse pedido, passei a cuidar do jardim e a fazer outras pequenas tarefas. Acho que a confiança entre nós cresceu e eis que me nomeou gerente de quatro das suas lojas quando nos mudamos aqui para Nelspruit”, disse.
Porque a disciplina, a honradez e a dedicação sempre compensam, com a ajuda do seu patrão conseguiu obter o ID ou DIRE (Documento de Identificação e Residência) sul-africano em 2000, o que lhe deixou confortável.
“Não precisava mais de me esquivar da polícia nem nada que se parecesse”, recorda.
Porque o negócio também tem o seu ciclo de vida, quando o patrão decidiu fechar as suas lojas, Edgar Paiva entendeu que era altura de continuar por risco e conta próprio.
“Lancei-me na compra e venda de cintos. O negócio fluiu. Andava de cidade em cidade a vender os meus produtos. Anos depois entrei para o negócio de táxi. Foi tiro no alvo”.
Efectivamente até há poucos anos não havia serviço de táxi naquela cidade. A primeira companhia a operar em Mbombela foi o City Buck. Fazia carreiras entre Nelspruitl e Johanesburgo.
“O meu primo António Matola deu-me a hipótese de trabalhar com ele. Aprendi muito. Anos depois comprei o meu primeiro Toyota. Trabalhava 24/24 horas. Por conta próprio”.
Como a procura fosse intensa, rapidamente construiu o seu pé-de-meia que lhe permitiu comprar, em ordem crescente, um Toyota Verso, Um Ford Focus, um Mazda, um Arris. Ao nosso encontro chegou a bordo de um BMW.
“ O BMW é o meu carro de estimação. Acho que é chegada a hora de gradualmente começar a desfrutar um bocado do meu esforço”, e ri-se, antes de autenticar a afirmação que aplaudimos.
“Muitos dos meus clientes são moçambicanos. Chegam recomendados por outras pessoas. Às vezes sirvo de intérprete, outras de guia. Acompanho as pessoas aos médicos, às compras, a estação de serviço automóvel, em suma, faço um pouco de tudo. Alguns miúdos já vêem recomendados pelos pais. É gratificante.
Sobre a possível existência de rivalidade com taxistas sul-africanos é peremptório e convincente na resposta.
“Trabalhamos em perfeita harmonia. Não há stress entre nós”, afiançou.
Edgar Paiva é casado com uma moçambicana e pai de três filhos.
P.S. Quando deixou Moçambique em 1995 o destino de Edgar Paiva era Johanesburgo
André Matola