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CATADORAS DE RESÍDUOS: Juntas no sonho de criar uma cooperativa

Por Jornal domingo

TEXTO DE GENÉZIA GERMANO*

Com a mão firme, aponta para um pedaço de vidro quebrado: “Tem dias em que encontramos instrumentos cortantes, mas não temos escolha. É assim que sobrevivemos”. Assim inicia o relato de Lúcia, aos 66 anos, que traz à tona uma realidade dura e inegável das catadoras de resíduos. Esta mulher actua há duas décadas como catadora, uma longa trajéctoria repleta de perigos constantes, como o tráfego intenso dos camiões colectores que frequentemente passam por perto. “Por um pequeno descuido, os carros que descarregam lixo atropelam”, lamenta e revela que “já vi colegas a morrerem atropeladas por camiões…”, lembra com lágrimas nos olhos.

Coragem e determinação são, portanto, palavras de ordem para quem pratica a referida actividade. Além de Lúcia, domingo conversou com outras mulheres que diariamente se fazem à lixeira de Hulene, na cidade de Maputo, para de lá tirarem o sustento das suas famílias. Por lá buscam dignidade em cada pedaço de material que recolhem, na garrafa plástica… enfrentam estigma social e adversidades enquanto lutam pela sobrevivência. Inspiram, iluminam e dão lição de resiliência, provando que mesmo no meio de adversidades é possível encontrar força e resiliência.

Palmira, outra catadora, tem 59 anos e é uma referência de força em Hulene. Com 16 anos de experiência, é desta actividade que vive, “sustento os meus filhos…”, afirma orgulhosa. Para ela, a colecta de materiais recicláveis não é apenas um trabalho, mas uma forma de resgatar a integridade, pois “ganhamos o dinheiro da forma digna”, destaca.

A rotina de Palmira começa antes do amanhecer. Armadas com sacos grandes e coragem, ela e suas colegas espalham-se pelas ruas em busca de materiais que possam ser reciclados. Enquanto percorrem as vias, o cheiro forte do lixo é constante, misturado a aromas de alimentos estragados e plásticos amontoados. “É um trabalho pesado, mas necessário. O que encontramos é o que garante o pão à mesa”, explica, enquanto levanta um saco cheio de papelão. Palmira reúne-se frequentemente com outras catadoras para discutir estratégias de melhoria nas condições de trabalho e segurança. “Cada uma de nós tem uma história e juntas podemos mudar nossa realidade”, conclui, reflectindo sobre a força da solidariedade entre elas. *(Colaboração) Leia mais…

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