As estradas da cidade da Beira, capital da província de Sofala, estão tomadas por buracos de todos os tipos, modelos e tamanhos que transformam o piso asfaltado numa espécie de tabuleiro de “ntxuva”, um jogo tradicional, que se desenrola em bandeja ou canteiro crivado de orifícios.
Para cúmulo, o “festival” começa à saída do Aeroporto da Beira, que até é internacional, e, por isso, devia servir de cartão-de-visita da urbe, e lavra por quase todo o terreno, incluindo rotundas e demais praças. Mal se coloca o pé para lá do edifício aeroportuário para começar a enfrentar a dura realidade de buracos, buraquinhos e buracões, cada um mais fundo que o outro, que deixam qualquer mortal num profundo desalento.
Do aeroporto em direcção à cidade, pela via que atravessa o bairro Manga-Mascarenha, há crateras no centro do pavimento, algumas das quais com pelo menos 30 centímetros de profundidade, o suficiente para reduzirem as viaturas que nelas “mergulhem” em cacos, sobretudo se se tratar de turismos.
Na via contrária, a que segue do aeroporto em direcção a pomposo bairro de Macuti, os buracos imperam exactamente nas “barbas” do Monte Verde, um dos mais badalados locais de diversão nocturna da cidade, e se espalham por todo o piso rumo ao Estoril, que é uma das áreas balneares da Beira.
A pausa acontece do Estoril até ao bairro da Ponta Gêa, passando pelo Hospital Central da Beira, mas, a ilusão se esgota quando o transeunte entende percorrer as vias transversais. Aqui ocorre a metáfora da “geleira”, que é linda por frente mas, por trás, pode estar repleta de teias de aranha, baratas e outros insectos mortos, e migalhas e ossadas arrastadas por ratos.
Voltando para a via de Manga-Mascarenha, nota-se que cada buraco é mais rechonchudo que outro, a ponto de alguns automobilistas, sobretudo camionistas, optarem por invadir quintais para trafegar por ali. Enquanto recolhíamos o presente material de Reportagem, parte da população desta zona rebelou-se e montou barricadas na via, mas, foi sol de pouca dura.
Depois de percorrer a via em direcção ao centro da cidade, a esquivar buracos que surgem “de rompante” aqui e ali, há que enfrentar aqueles que cercam a rotunda localizada em frente ao supermercado Shoprite, local que, por ironia, leva semáforos. A presença dos buracos naquele local até sabe a propositado, pois, dá a impressão de que visa obrigar a todos os automobilistas a respeitarem o sinal luminoso, tanto quando funciona, como quando está avariado.
Na parte velha da cidade, a chamada baixa, “o bicho pega”. É buraco aqui, ali, acolá, enfim. Impressionante é que alguns automobilistas locais também se surpreendem com as covas a ponto de imprimirem travagens bruscas de pouco efeito.
Como verdadeira praga, os buracos também roçam as cercanias das estâncias hoteleiras, instituições, empresas públicas e privadas. Na ampla avenida onde está localizado o edifício do Governo da Província de Sofala, de um lado, e a delegação das Linhas Aéreas de Moçambique (LAM), do outro, há um buraco suficientemente capaz de quebrar ponteiras das mais robustas viaturas de tracção às quatro rodas. Em redor do Bulha-Shopping, idem.
Na estrada que separa a Escola Agostinho Neto e o Hotel Embaixador, um dos hotéis mais caprichados da cidade, as cavidades asfálticas são expressivas, incontornáveis a ponto de até em marchas nupciais serem capazes de provocar solavancos, dos bons. É daqueles locais onde até a pé se anda devagar, devagarinho.
Porque o assunto ganha contornos que escapam ao controlo de tudo e todos, a praça onde está localizado o edifício-sede do Conselho Municipal também conta com o seu quinhão. Porém, como era de esperar, a edilidade tratou de “dar um jeitinho” usando areia com 15 por cento de cimento, como diz o vereador local para a Área de Construção e Urbanização, Albano António.
Onde os buracos pululam “à grande e à francesa” é na antiga Estrada Nacional Número Seis (EN6), que atravessa a zona industrial prenhe de armazéns. Devido ao intenso tráfego de camiões, o asfalto da era colonial simplesmente desapareceu e deu lugar a um piso de areia. Por outro lado, o tamanho dos buracos que por ali se enfileiram é tão enorme que condicionam a fluidez do trânsito, pior porque uns e outros camiões se empoçam na lama que disfarça os buracos e impedem a circulação dos demais. O ritmo de circulação faz lembrar uma pista de moto-cross, mas, em “camara lenta”.
Jorge Rungo