Texto de Frederico Jamisse e Fotos de Inácio Pereira
Reza um adágio popular que para se ser Homem é preciso plantar uma árvore, ser militar, ter um filho e lançar um livro. Alfredo Lázaro Mueche, foto-jornalista do semanário domingo, acaba de concretizar um sonho: lançar um livro sobre aquilo que ele faz e gosta. Fotografar.
Não cumpriu na íntegra os requisitos para ser Homem, pois no seu historial de vida, falta o cumprimento do Serviço Militar Obrigatório, embora tenha durante muito tempo fotografado a guerra trajando uniforme militar.
O livro tem como título Mueche: 32 anos clicando vidas e sai sob chancela da Alcance Editores. O lançamento do livro foi testemunhado por amigos, colegas e familiares do autor, na Fortaleza de Maputo.
É um livro com 164 páginas e que retrata os vários momentos da vida fotográfica do foto-jornalista Alfredo Mueche. É um registo das várias fotografias feitas em momentos distintos da sua carreira. Há no livro, fotografias que ilustram a fase de aprendizagem da arte de fotografar; o autor Mueche com camaradas da profissão fazendo cobertura da guerra civil; ilustração dos hábitos e usos costumes dos povos de Moçambique (Ilha de Moçambique retratada, obras de Malangatana, entre outros). Há por outro, o relato fotográfico dos factos do quotidiano, casos das explosões do Paiol, Tumultos em Maputo, devastação do mercado Xikheleni.
Contudo, porque Mueche é fotógrafo laureado, há no livro um desfile de alguns diplomas por ele conquistados, assim como o registo da Associação Moçambicana de Fotografia.
Alias, na Fortaleza está também patente a exposição individual de Alfredo Mueche. São fotografias ilustradas no livro que o autor imprimiu para partilhar com os demais.
O livro foi apresentado por André Matola, jornalista e colega do autor. “Mueche é meticuloso, corajoso, milimétrico, mas sobretudo, espontâneo ao fotografar. Sente-se essa coragem, esse arrojo na sequência de fotografias que perfazem o bloco intitulado “Garimpo”, páginas 112 a 117. Só um homem duro, talhado e marcado pela vida consegue flagrar momentos desta têmpera”, explica Matola.
Percorrendo o livro, André Matola dá outro exemplo: “ Outro bloco por cima de toda a página e cuja apreciação é um regalo para os nossos sentidos, para a vida, vai da página 148 a 155”.
O apresentador da obra explica ainda que Mueche narrou com a sua máquina fotográfica tudo o que corre nas veias e está registado no ADN desta pátria chamada Moçambique que ostenta o orgulho do Makwai, Zorre, mapiko, Nyau, Tufo e de muitas outras formas de manifestação cultural que só o sol do Índico produz. “Mueche também narra a orfandade, as lágrimas, a pobreza. Mas acima de tudo a esperança que nos faz acreditar que o sol quando nasce, germina para todos”.
Jorge Matine, Director do jornal domingo e amigo do autor, disse que Alfredo Mueche é um dos nomes incontornáveis quando se fala de foto-jornalismo em Moçambique. “Se alguém se lembrar um dia de fazer a História da fotografia deste país, certamente terá de incluir o nome de Alfredo Mueche, juntando-o ao dos outros como Ricardo Rangel (primeiro director do jornal domingo e fotógrafo), Amadeu Marrengula, Domingos Elias, Funcho, Kok Nam, Naíta Ussene, entre outros”.
Jorge Matine disse que carreira do Mueche é muito interessante. Pois, não saltou etapas. Vem desde o processo de aprendizagem, troca de experiências à fase de consolidação, do aperfeiçoamento da fotografia para o jornal. “As fotografias de Alfredo Mueche falam. Comunicam connosco. E ao longo dos anos temos estado a testemunhar isso, a ver fotografias de Mueche que nos ilucidam sobre vários temas e nos remetem à reflexão”.
O prefácio do livro é escrito por Almiro Santos, jornalista conhecedor do autor das fotografias. Aliás, Almiro considera Alfredo Mueche como “O Caçador de Momentos”.
Almiro Santos escreve no prefácio “No rescaldo destes olhares, também pelos hábitos culturais de um país intenso de emoções, Alfredo Mueche “flagrou” os mais inusitados ofícios de um quotidiano de sobrevivência extrema, contrariamente obtidos em espaços cénicos de panorâmica beleza e de sonhados retiros da nossa consagrada natureza, pontificadas em registos na Ilha de Moçambique, património que orgulhosamente, compartilhamos com a Humanidade”.
José Sixpence, escreve no posfácio: “Os seus trabalhos denotam que muito cedo Mueche apercebeu-se que a fotografia usa uma linguagem universal. Razão pela qual ele explora da melhor forma, e quase sempre, a sua criatividade bem como as oportunidades que lhe surgem pela frente para “congelar o tempo e episódios” e transformá-los nisto que se convencionou chamar de fotografia!”.
QUEM É ALFREDO MUECHE?
Alfredo Muche iniciou a sua carreira em 1983, na Agência de Informação de Moçambique. Em 1984 estagia na Revista Tempo e em 1985 segue para Europa, nomeadamente para Hungria, Alemanha e Portugal, em estágio e aprendizagem.
Em 1985 é nomeado Chefe da secção fotográfica da AIM (Agência de Informação de Moçambique). No ano de 1994 ruma para o semanário Savana, onde permanece durante três meses. Em Janeiro de 1995 regressa à Sociedade do Notícias através do semanário domingo, onde matem-se actualmente. Em 2000 é promovido para categoria de Editor Fotográfico.
Ao longo da carreira, Mueche conquistou prémios. 1997 – Primeiro Prémio Craveirinha – países falantes de língua portuguesa (CPLP); 2006 – Primeiro Prémio sobre SIDA a nível da SADC; 2006 – Primeiro Prémio sobre HIV a nível nacional (dois prémios); 2008 – Prémio HIV-SIDA a nível da SADC.