O sonho de construir a hegemonia universal tem atravessado o imaginário humano desde a antiguidade. São conhecidos os sonhos de Nabucodonosor, Alexandre Magno, Napoleão Bonaparte, Júlio Cesar, Hitler, entre outros. Cada um destes imperadores quis no seu contexto construir o império que dominasse todo o mundo (hegemonia universal), mas nenhum deles alcançou o seu objectivo.
A dificuldade de alcance do objectivo tem a ver com a dificuldade de definir o que viria a ser a hegemonia universal. Por exemplo, Ratzel definiu a hegemonia universal como o estado vencedor duma luta global e titânica pela conquista do espaço vital. Portanto, ela resulta da guerra. Por sua vez, Kjellen definiu-a como o estado que resulta do refreamento das vontades das grandes potências e revalorização das pequenas potências. Os processos de refreamento e revalorização são orientados por uma organização global, que no caso seria a ONU, e corresponde, o estado universal, ao sonho natural da humanidade de viver em união. Portanto, em Kjelen a hegemonia universal resulta da negociação conduzida por uma entidade internacional.
O sonho de Trump enquadra-se no conceito ratzeliano de formação de hegemonia universal, aliás ele foi explícito durante a sua campanha eleitoral ao afirmar que queria tornar a América grande de novo, “Make America Great Again”. Uma afirmação que exprime um reconhecimento de que os EUA são tão grande potência como muitas outras (China, Rússia, Brasil, Irão, Turquia, entre outras), mas que através da “guerra” vai torná-la hegemonia universal. Importa realçar que os Estados Unidos tiveram uma superioridade estratégica no mundo apenas por quatro anos, entre 1945 e 1949, quando os EUA eram os únicos detentores da bomba atómica, uma arma de destruição maciça que conferia superioridade aos EUA no Mundo. Contudo, esta vantagem estratégica chegou ao fim em 1949 quando a então URSS inventou a sua bomba atómica.
O fim da vantagem estratégica acentuou a competição durante o período da bipolaridade. Com o fim da era bipolar, os EUA voltaram a acalentar esperanças de serem a hegemonia universal. Este sonho foi galvanizado pelo sucesso da “Operação Tempestade no Deserto” (1990-1991) levada a cabo por uma coligação internacional, por si liderada, para pôr fim à invasão iraquiana no Kwait. Mas a ascensão inegável da Rússia, China, Brasil e Índia tornou o sistema internacional multipolar e, por isso, afastou para um futuro distante o sonho americano e, já agora, “trumpiano” de tornar os EUA uma hegemonia universal.
As dificuldades de relacionamento que os EUA têm com os estados-membros da União Europeia (Alemanha e França), o Irão, a Coreia do Norte, a Turquia, a Rússia, a China e, mais recentemente, com o México revelam que o sonho americano de tornar-se uma hegemonia universal é uma quimera. As guerras comerciais que trava com países como o Canadá, México, Rússia, Alemanha e China comprovam a existência de vários pólos de poder no sistema internacional hodierno. Às guerras comerciais junta-se a incapacidade negocial com estados como a Coreia do Norte e o Irão, cujos programas nucleares preocupam os EUA.
Por Paulo Mateus Wache*