Apesar da conversa telefónica entre Biden e Macron, ainda continua longe de chegar ao fim a crise na aliança transatlântica despoletada pela traição australiana no negócio de submarinos. Depois de o ministério francês das Forças Armadas ter anunciado que iria exigir uma compensação financeira ao governo de Camberra, agora foi a vez do presidente Macron reactivar a ideia da necessidade de autonomização do sector de defesa e segurança da Europa. Quando parecia que a conversa entre os líderes de Washington e de Paris iria reduzir o nível de tensão, já que Paris decidiu que o seu embaixador em Washington retornaria ao posto depois de ser convocado devido ao incidente, eis que poucos dias depois chega a primeira reacção pública do presidente francês. Basicamente, Macron disse aos europeus que eles devem conformar-se à máxima de que “as amizades são situacionais, contextuais e/ou transitórias”.
É de praxe dizer-se, entre os entendidos de Relações Internacionais, que “em relações internacionais não há amigos e nem há inimigos eternos, o que existem são interesses”. Esta é uma máxima acoplada ao pensamento realista, que denota a ideia de que “as amizades ou inimizades”, em relações internacionais, “são situacionais, contextuais e/ou transitórias”. Os amigos de hoje podem tornar-se adversários, ou inimigos, de amanhã, e vice-versa. Tudo depende do interesse convergente, ou divergente, que os Estados pretendem alcançar em diferentes momentos ou situações. Este pensamento guia a acção de todos Estados na arena internacional, ainda que isso ocorra em função da capacidade de cada um. É devido à materialização desse pensamento que a Austrália cancelou um contrato com a França, e os EUA e a Grã- -Bretanha apunhalaram pelas costas os franceses mesmo cientes dos dissabores que resultariam dessa traição. Os três Estados agiram na defesa dos seus interesses nacionais, do mesmo modo que a resposta da França visa também alcançar o mesmo. Leia mais…
Edson Muirazeque *
edson.muirazeque@gmail.com