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(Re)conceptualizando a “Guerra Fria”

Por Idnórcio Muchanga

O conceito de Guerra Fria, na forma como aparece nos manuais de história “universal” e em muitas cadeiras das ciências sociais e políticas, enferma do vício de “mesmização”. A mesmização consiste em pôr no mesmo arcabouço analítico situações diferentes – confrontação ideológica e confrontação militar.

 Ainda que com móbil semelhante, havia diferenças não ignoráveis nem simplificáveis. Por causa da mesmização acaba-se classificando o período de 1945 a 1991 como período da guerra fria, definindo-se este, essencialmente, como o período da confrontação ideológica. Esta é a definição de que se socorre Francis Fukuyma quando proclama o fim da história como a vitória do capitalismo sobre o socialismo.

Na realidade, o conceito de guerra fria assumido como confrontação ideológica apenas descreve o fenómeno ocorrido entre o capitalismo “versus” socialismo, Ocidente “versus” Leste, EUA “versus” URSS. Este conceito de guerra fria não captura as guerras e, consequentemente, as mortes ocorridas em Vietname, Laos, Camboja, Nicarágua, Afeganistão, Moçambique, Angola, entre outros países. Estes países, do então terceiro mundo, viveram a confrontação militar ainda que induzida e apoiada pela confrontação ideológica. Portanto, para o terceiro mundo o período que vai de 1945 a 1991 foi um período de guerra quente, ou seja, de confrontação militar.

Porque será que o conceito da guerra fria ignorou e continua a ignorar, com complacência de todos, as guerras ocorridas no terceiro mundo? Esta pergunta encontra uma resposta nua e crua no artigo de Francis Fukuyama publicado em 1989, com o título “The end of History?”, no qual afirma: “[…] para nossos propósitos, pouco importa que pensamentos estranhos ocorram para as pessoas na Albânia ou em Burkina Faso, pois estamos interessados no que poderíamos, em certo sentido, chamar de herança ideológica comum da humanidade”. Em outras palavras, os países do terceiro mundo, representados pela Albânia e pelo Burkina Faso, não contam para a herança ideológica comum da humanidade e, por isso, a guerra quente que ocorreu nesses espaços geopolíticos também não conta.

Por Paulo Mateus Wache*
PWache2000@yahoo.com.br

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