Afinal o problema do Sudão não era a ditadura de Omar al-Bashir, mas sim a natureza do regime dos generais, que considera que só os militares é que devem governar o país. Se a deposição de Bashir criou a ilusão de uma transição para uma governação civil e democrática, os generais da desgraça do Sudão vieram mostrar aos civis do país e ao mundo inteiro que isso vai continuar a ser uma miragem. Aliados no passado para derrubar o general Bashir, os generais da desgraça do Sudão agora decidiram virar as costas e mergulhar o país numa guerra em que o povo é que paga a factura. O exército, controlado pelo general Abdel Fattah al-Burhan, está em guerra contra as Forças de Apoio Rápido, controladas pelo general Mohamed Hamdan Dagalo, mais conhecido por Hemedti, tudo numa disputa pelo controlo do poder no país, num ano em que haviam prometido organizar eleições para transferir o poder aos civis.
O Sudão é um país que, desde a sua independência, tem sido governado por generais (militares). Aliás, o país é líder nas estatísticas africanas de golpes de Estado, tanto em tentativas, 35, como em golpes de Estado efectivos, 6. Os golpes de Estado no país foram bem- -sucedidos nos anos de 1958, 1969, 1985, 1989, 2019 e 2021. Estes números ilustram um país que, desde a sua independência em 1956, tem sido caracterizado por momentos de instabilidade, de golpes de Estado e de perpetuação dos generais no poder. A eclosão da violência armada no passado dia 15 de Abril, num ano que supostamente os militares permitiriam a realização de eleições para a transição do poder para um governo civil, é reflexo da vontade do regime dos generais da desgraça do Sudão continuarem a controlar o poder. Leia mais…
Por Edson Muirazeque *
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