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O homem que descobriu o ébola

Por admin

Peter Piot lembra-se perfeitamente daquele dia. Estava-se em Setembro de 1976 quando um piloto da Sabena Airlines chegou ao laboratório em Antuérpia onde ele era investigador com uma amostra de sangue de uma freira belga que tinha adoecido misteriosamente numa aldeia perdida no  Zaire.

O pedido era para analisar e despistar a febre amarela.

Sem qualquer noção da perigosidade do vírus, Peter vestia apenas as suas luvas e a bata branca. Os testes à febre amarela vieram negativos, claro, assim como os seguintes, à febre de Lassa e à febre tifóide. O investigador e a sua equipa injectaram então o vírus em ratos- que passados alguns dias estavam todos mortos. Tornava-se claro que algo extremamente mortífero existia naquela amostra de sangue.

Quando viram o vírus pela primeira vez ao microscópio, depararam-se com uma imagem diferente de tudo o que conheciam: “Algo grande e comprido, parecido com uma minhoca.” O governo belga decidiu mandar cientistas para a aldeia onde entretanto as freiras tinham morrido – e Petar não hesitou. “Tinha 27 anos e sentia-me como o meu herói de juventude, o Tintim. Estava doido com a possibilidade de descobrir algo completamente novo”, confessou ao “Guardian”. 

O microbiólogo e outros cientistas recolheram sangue de dez pacientes infectados e baptizaram a doença com o nome do rio que  julgavam ser o mais próximo: Ébola. Estava encontrada a designação para um dos vírus que ainda hoje é dos mais mortais. De então para cá passaram 38 anos. Mas o actual director da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres começou a ficar seriamente preocupado, em Junho deste ano, quando percebeu que as características deste surto eram diferentes das anteriores, breves e controláveis. Afirma sem dúvidas: “Isto já não é uma epidemia. É uma catástrofe humanitária.”

Este surto de ébola teve início na Guiné em Dezembro de 2013, mas só foi detectado em Março de 2014. Entretanto, espalhou-se pela Libéria , Nigéria, Senegal e Serra Leoa, somando já um total de 3338 mortes confirmadas e 7178 casos suspeitos (todo o universo de pessoas que pode ter tido contacto com os infectados). 

O contágio dá-se através dos fluidos corporais, mas o período de incubação da doença, de 21 dias, dificulta a contenção dos doentes. Esta febre hemorrágica não tem cura, embora haja um tratamento experimental, o ZMapp (droga resultante da combinação de três anticorpos gerados pela clonagem de uma única célula), que teve efeito em dois voluntários norte-americanos infectados. Os primeiros casos nos EUA-e, agora, na vizinha Espanha – fizeram accionar novos planos de contingência, higiene e circulação de pessoas no Ocidente, para evitar uma pandemia mundial, que pode ser pior que qualquer filme de terror.

 

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