Depois dos cortes no fornecimento e aumento dos preços do gás natural russo, da anexação ou adesão da Crimeia pela ou à Rússia, da guerra civil na Ucrânia, concentrada em Donetsk e Luhansk e da autocefalia da Igreja Ortodoxa Ucraniana em relação à Igreja Ortodoxa russa, agora o pomo do conflito encontra-se no Mar de Azov. No dia 25 de Novembro de 2018, três barcos ucranianos e seus tripulantes foram capturados depois de uma troca de tiros. A Rússia argumenta que a Ucrânia invadiu o seu mar territorial e a Ucrânia nega ao afirmar que seguiu todos os procedimentos para sulcar o Mar de Azov.
Na realidade, este incidente insere-se num conflito geopolítico mais amplo que tem como actores a Rússia, o Ocidente (União Europeia e EUA) e a Ucrânia. Um conflito que está intimamente ligado ao fim da guerra fria, mais precisamente a desagregação da União Soviética. De facto, a desagregação conferiu à Rússia o estatuto de líder regional e esta tratou de criar uma arquitectura de segurança regional – a Comunidade de Estados Independentes – da qual a Ucrânia fazia parte. Contudo, o Ocidente, principalmente, a União Europeia, com a sua política de alargamento para o leste traçou estratégias para afastar a Ucrânia da esfera de influência russa. Foi dentro deste contexto que a União Europeia desenhou a Política Europeia de Vizinhança, segundo a qual todos os vizinhos da União Europeia, querendo, podem ter todos os benefícios que os estados da União Europeia têm, menos o acesso às instituições. Com esta política a União Europeia incentivou reformas liberais e revoluções (protestos) contra governos pró-russos na Ucrânia e não só, este é o caso da revolução laranja em 2004.
A revolução laranja – protestos instigados pela União Europeia – possibilitou a eleição de um presidente pró-Ocidente, Viktor Yushchenko, em 2005. Como consequência, as relações Rússia vesus Ucrânia-Ocidente conheceram dias difíceis. A partir de 2008, Yushchenko iniciou negociações para os acordos de livre comércio com a União Europeia. Esta aproximação irritou a Rússia que passou a usar o gás natural como instrumento de projecção do seu poder e como forma de não aceitar a interferência da União Europeia no seu espaço de influência. Foi assim que, em 2008 e 2009, a Rússia passou a cortar com frequência o fornecimento de gás natural à Ucrânia e à União Europeia e a elevar os preços.
Por Paulo Mateus Wache*