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O fiasco diplomático de Hanói

Por Idnórcio Muchanga

A cimeira de Hanói entre Donald Trump e Kim Jong-Un terminou no dia 28 de Fevereiro último sem o tão almejado acordo de desnuclearização. Diferentemente da cimeira de Singapura, de Junho de 2018, que terminou com a assinatura de um acordo vago, a cimeira da capital vietnamita (Hanói) terminou com acusações mútuas. Os EUA argumentaram que não houve acordo porque a Coreia do Norte exige a retirada total das sanções económicas e a Coreia do Norte nega essa informação afirmando que ela pediu a remoção parcial das sanções.     

Apesar desta diferença, a questão da desnuclearização da Coreia do Norte é uma agenda prioritária para os EUA e a Administração Trump parece estar empenhada em conseguir tal façanha. Contudo, esse empenho não tem produzido resultados esperados devido, por um lado, à prepotência e unilateralismo dos EUA e, por outro, à falta de vontade da Coreia do Norte de desfazer-se do seu arsenal nuclear.

A prepotência e unilateralismo dos EUA manifesta-se pela exigência de desnuclearização incondicional da Coreia do Norte, ou seja, sem nada em troca. Por sua vez, a Correia do Norte demonstra a sua falta de vontade ao exigir a retirada das sanções económicas antes de iniciar a sua desnuclearização, uma espécie de garantia de que não será “burlada” pelo seu parceiro negocial. Tanto a posição dos EUA quanto a da Coreia do Norte demonstram que as partes não estão ainda preparadas para alcançarem o acordo, tanto mais que o mais interessado com o tal acordo são os EUA. A Coreia do Norte, mal ou bem, vai-se aguentando, apesar das sanções impostas e tem estado a revelar-se uma potência regional e até internacional relevante, por causa da posse do arsenal nuclear com um grande poder dissuasivo.

Do ponto de vista de implicações da falta de acordo, em Hanói, estas vão desde a humilhação dos EUA à projecção da imagem da Coreia do Norte sem excluir a tensão que gera na Coreia do Sul e no Japão. Em relação à humilhação dos EUA, importa salientar que a cimeira de Hanói foi objecto de um árduo trabalho diplomático e tudo estava preparado para que houvesse um acordo ainda que vago como o de Singapura. A rejeição total das propostas americanas deixa uma impressão de que a diplomacia americana falhou ao não ter evitado marcar um encontro para que o seu chefe de estado fosse a uma cimeira oca. Sendo os EUA uma potência hegemónica nas relações internacionais, o fiasco diplomático de Hanói representa uma humilhação para si.

Texto de Paulo Mateus Wache*
PWache2000@yahoo.com.br

 

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