Desde o fracasso diplomático de Hanoi, a 25 de Fevereiro de 2019, o entusiasmo de Trump em relação à questão nuclear norte-coreana desvaneceu, apesar de em Junho ter-se encontrado com Jug-Un na Zona Desmilitarizada de Panmunjom. Trump é acusado, por Jon-Un, de ser unilateralista. Por isso, os contactos diplomáticos entre Washington e Pyongyang tornaram-se uma farsa para o “inglês ver”.
Na prática, Trump procura tudo fazer para impedir uma reaproximação efectiva e sustentável a longo prazo entre Seul e Pyongyang. Apercebendo-se da estratégia de Trump, Jon-Un tratou de se aproximar da Rússia, fazendo com ela uma reunião bilateral a 25 de Abril de 2019. O mais recente sinal de distanciamento entre Pyongyang e Washington aconteceu a 25 de Julho de 2019, quando a Coreia do Norte voltou a testar mísseis de curto alcance num evento denominado por Jon-Un de “aviso solene”. A pergunta que emerge é aviso solene a quem?
Antes de responder à pergunta, importa realçar que o processo de reaproximação entre Pyongyang e Seul conheceu grandes avanços desde o a realização, em Fevereiro de 2018, das Olimpíadas de Inverno em Pyeongchang nas quais Jong-Un mandou uma delegação encabeçada pela sua irmã Kim yo-Jong. A reaproximação prosseguiu com o anúncio do fim de testes nucleares e de mísseis, encerramento da central nuclear de Punggye-ri, activação da linha telefónica directa entre os gabinetes de Moon Jae-In e Kim Jong Un (a 20 de Abril de 2018). Todos estes avanços conduziram às Cimeiras Inter-Coreanas de 27 de Abril, 26 de Maio e 18 de Setembro de 2018. Estes avanços do diálogo inter-coreano tornaram possível a aproximação entre Pyongyang e Washington em Hanoi, contudo o resultado foi negativo, porque os EUA adoptaram uma postura unilateralista.
Com este histórico de reaproximação entre as duas Coreias, a resposta óbvia à pergunta acima apresentada torna-se, aparentemente, difícil. Contudo, o facto de os mísseis testados serem de curto alcance dá a indicação de que o “aviso solene” não se destina aos EUA por estarem distantes da Coreia do Norte. O aviso destina-se, isso sim, aos vizinhos, nomeadamente a China, a Rússia, a Coreia do Sul e o Japão, porque somente eles podem ser alcançados pelos mísseis testados. Porém, os factos no terreno mostram que o aviso, ainda que abrangente, destina-se aos aliados dos EUA na região, principalmente a Coreia do Sul, sem deixar de lado o Japão. A razão deste comportamento de Pyongyang prende-se com a compra por parte de Seul de jactos de guerra americanos e o plano de manobras militares conjuntas entre Seul e Washington. Estes factos enfureceram Jong-Un que recorre à dissuasão militar para responder aos avanços da parceria Seul-Washington. Leia mais…
Por Paulo Mateus Wache*