POR EDSON MUIRAZEQUE *
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O ultimato da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) contra os militares golpistas no Níger não produziu o efeito desejado. Uma semana depois do término do prazo imposto para a reposição da ordem constitucional, o deposto presidente Mohamed Bazoum não só continua detido como também os militares anunciaram a formação de um governo. À medida que os golpistas “fincam pé” no poder, a autoridade da CEDEAO vai se corroendo e é de dentro da própria organização onde emerge a sua ameaça existencial. Aliado ao fracasso de não ter sido firme em casos anteriores de golpes de Estado, a CEDEAO enfrenta o desencontro de posições dos seus membros sobre o envio de uma força militar para restituir Bazoum à presidência e derrubar os militares golpistas. As posições da Guiné-Bissau, que favorece a “Tripla dos Justiceiros”, e de Cabo Verde, que aparenta simpatizar com a “Tripla dos Renegados”, países membros da organização regional, mas que também integram o agrupamento Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP), simbolizam a crise existencial que está a assolar a CEDEAO.
Passada uma semana depois do término do prazo que a CEDEAO havia imposto para a reposição da ordem constitucional no Níger pode-se dizer que o ultimato foi um fracasso. Aliás, poucos dias depois do término do prazo, Bola Tinubu, chefe de Estado da Nigéria e presidente em exercício da organização regional, reconheceu que a ameaça do uso da força “não produziu os resultados esperados”. Na verdade, os militares golpistas não ignoraram somente os apelos da CEDEAO, mas também de outras organizações, como a União Africana e a Organização das Nações Unidas, e de grandes potências, como a França e os EUA. Para mostrar ao mundo que não pretendem ceder à pressão externa, no passado dia 10 de Agosto, o mesmo dia em que os chefes de Estado da CEDEAO estavam reunidos em Abuja para discutir a crise no Níger, os militares anunciaram a formação de um governo composto por 21 ministros, incluindo 6 militares.
Na reunião de Abuja, os líderes da CEDEAO ordenaram a mobilização “imediata” da sua força de reserva, o que pode significar que a organização vai mesmo avançar com a intervenção militar. No entanto, o bloco regional reiterou que “todas as opções” estão em cima da mesa. Aliás, apesar de se ter activado a opção militar, o presidente em exercício da organização continua a achar que se deve priorizar a via diplomática e o diálogo com todos os envolvidos para se repor a ordem constitucional no Níger. Tinubu indicou que “temos de chamar à mesa todas as partes envolvidas, incluindo os autores do golpe de Estado, em discussões sérias para as convencer a abandonar o poder e reconduzir o Presidente Bazoum. É nosso dever esgotarmos todas as avenidas para assegurar um retorno rápido à ordem constitucional no Níger”. Leia mais…