O presidente da Federação Internacional da Cruz Vermelha, Francesco Rocca, insurgiu-se, na passada segunda-feira, contra aquilo que considera ser uma tentativa de “politização” da ajuda humanitária. Em causa está o facto de a organização que dirige ter conseguido angariar somente 10% dos 50 mil milhões de francos suíços que a sua organização pediu, em Setembro, para ajudar a Venezuela. Vinda de um representante de uma organização não-governamental, a crítica de Rocca é compreensível. Porém, nas relações internacionais são raros os casos em que a ajuda externa é fornecida pelo mero altruísmo do doador e sem uma dimensão de “politização”. Aliás, a não politização torna-se ainda mas difícil quando o necessitado é, por um lado, um país cujo governo é um incómodo e, por outro, quando o país é rico em recursos naturais valiosos.
Por “politização da ajuda” neste artigo entenda-se a influência que os objectivos políticos de Estados ou agências doadores exercem sobre onde, o quê e como é que os programas de ajuda são providenciados. Com efeito, em função dos interesses do doador, o país necessitado pode ter acesso ou não à ajuda, sempre sob condicionalismos que o doador impõe.
O apelo de Rocca, e da Cruz Vermelha, justifica-se pela crítica situação que o povo venezuelano tem estado a passar em face da crise económica e política que o país tem vindo a enfrentar. Aliás, há relatos de o Estado venezuelano não estar a ser capaz de satisfazer as necessidades básicas dos seus cidadãos. Resultante dessa incapacidade, milhões de venezuelanos são reportados como estando a abandonar o país à procura de melhores condições de vida no exterior. Politicamente o Estado parece estar paralisado, funcionando praticamente com dois governos. Leia mais…
Por Edson Muirazeque *
edson.muirazeque@gmail.com