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Mais vale tarde do que nunca: russos “institucionalizam” o regresso à África

Por Idnórcio Muchanga

O cerco a África já está montado! Depois de quase três décadas de uma aparente ausência ou um regresso tímido ao continente africano, os russos finalmente “institucionalizaram” a sua intenção de se (re)afirmar no “continente das novas oportunidades”. Recentemente foi realizada em Sochi, na Rússia, a primeira cimeira Rússia- -África, na qual se decidiu que trienalmente haverá encontros similares entre as duas partes. A tónica do debate desta primeira cimeira esteve na necessidade da duplicação do volume de transacções comerciais entre as duas partes. A intensificação do comércio tem sido também a ênfase dada pelas outras grandes potências – EUA, Grã- -Bretanha, França e China – que institucionalizaram encontros com os líderes africanos. Completado o cerco, um aspecto relevante a saber é sobre como é que África vai lidar com este restrito clube nuclear que toma as decisões importantes do relacionamento internacional a partir do Conselho de Segurança das Nações Unidas.

Após o término da guerra fria, o continente africano passou por um período de marginalização e esquecimento no concerto das nações. As antigas potências coloniais França e Grã- -Bretanha afastaram-se da gestão directa dos destinos dos povos das suas antigas colónias. Este afastamento significou uma independência dos Estados africanos, já que politicamente nota- -se uma autonomia das suas lideranças. Apesar da concessão do direito à autodeterminação aos povos africanos, as antigas potências coloniais criaram outros mecanismos para continuar a “controlar” de perto as suas antigas possessões coloniais. Enquanto os britânicos institucionalizaram a Commonwealth, os franceses criaram a irmandade na francofonia, que são fóruns usados pelas antigas colónias para ter acesso privilegiado a diversos recursos que África possui. Para além destas irmandades, França e Grã-Bretanha instituíram, juntamente com outros membros da Uniao Europeia (UE), também as cimeiras UE- -África em 2000.

Os russos, que são considerados os perdedores da guerra fria, já que a união por si criada, a URSS, desmoronou, caiu o muro de Berlim e abandonaram o comunismo, ficaram durante algum tempo fora de África. Ao que parece, esse tempo serviu para se reerguer para depois fazer um retorno à terra das novas oportunidades. Depois de algum tímido retorno para o continente, que parecia circunscrever-se à África central, a recém-realizada cimeira mostra que a Rússia tem ambições que eventualmente abrangem todo o continente africano. O convite para Sochi, a exposição de “oportunidades” que os africanos podem obter no seu relacionamento com esta re-emergente potência económica, o apelo à duplicação do comércio são alguns sinais da importância estratégica que África constitui para a política externa de Moscovo. Leia mais…

Por Edson Muirazeque *

edson.muirazeque@gmail.com

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