As autoridades da Coreia do Sul anunciaram, na passada sexta-feira, que a sua “amizade” com o Japão chegou ao fim. A “amizade” entre os dois poderosos (economicamente) vizinhos da Ásia, que era legitimada pelo GSOMIA, sigla em inglês para Acordo Geral de Segurança de Informação Militar, chega ao fim exactamente no dia em que era suposto ser renovada. O acordo tinha sido desenhado para servir de uma plataforma de partilha de informações sobre segurança, especialmente as ameaças provenientes dos testes de mísseis e pelas actividades nucleares da Coreia do Norte. Seul decidiu não renovar o acordo por considerar que este não mais satisfaz os seus interesses. Tóquio protestou contra a decisão e acusou o país vizinho de faltar com a palavra por não honrar promessas do passado. Enquanto os dois “amigos” se desentendem, quem deve estar a festejar devem ser a Coreia do Norte e a China, outros dois vizinhos que podem sair a ganhar da “inimizade” entre a Coreia e o Japão.
É de praxe, entre os estudiosos de Relações Internacionais, dizer-se que “em relações internacionais não há amigos e nem inimigos, o que existem são interesses”. Esta é uma máxima que serve para transmitir a mensagem de que no relacionamento entre os Estados as “amizades” são situacionais ou contextuais. Com efeito, os amigos de hoje podem ser inimigos de amanhã, do mesmo modo que os outrora inimigos podem tornar-se amigos, dependendo do interesse em jogo. Portanto, ilude-se o estadista que pense e acredite que existem “amizades” reais, permanentes e que não estejam acopladas a algum auto-interesse.
A decisão de Seul de “terminar” a sua “amizade” com o Tóquio é indicativa deste pensamento que, teoricamente, está ligado à escola realista de relações internacionais. Os japoneses, que dependem muito da sua segurança em uma terceira parte, mostraram de imediato o seu desagrado pela decisão de Seul. O Primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, exigiu mesmo que os coreanos restaurem a confiança entre os dois vizinhos e informou que vai intensificar a sua colaboração com os EUA para a manutenção da segurança regional. O seu ministro dos negócios estrangeiros, Taro Kono, criticou também a decisão de Seul e disse que esta estava a misturar questões comerciais com questões de segurança. Leia mais…
Por Edson Muirazeque *
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