A luta pelo controlo de África por potências estrangeiras continua ao rubro. O presidente da Junta Militar que governa o Burkina Faso, Ibrahim Traore, teve de dizer, numa entrevista recente, que a “presença da Wagner foi inventada para prejudicar [o seu país]”. Para aquele governante, os “inventores” da presença da Wagner pretendem minar as relações do seu país com o resto do mundo, para que outros países não queiram cooperar com o Burkina Faso. Os recentes pronunciamentos de Traore levantam três dimensões de análise sobre o relacionamento das grandes potências estrangeiras com o continente africano. Primeiro, a luta pelo controlo, ou influência, de África pelas potências estrangeiras continua acirrada. Segundo, está a notar-se uma cada vez maior ascendência da Rússia no continente, o que, por seu turno, está a aumentar os “ciúmes” do Ocidente. Terceiro, está a haver uma cada vez maior consciência das lideranças africanas em resistir aos comandos provenientes de interesses externos.
Tal como aconteceu no passado, o continente africano continua a ser palco de luta de potências estrangeiras pelo controlo, numa agenda mais ampla pela hegemonia, ou exercício de influência, global. No século XIX o continente africano foi dividido entre as grandes potências europeias na famigerada Conferência de Berlim. No século XX, com a relativa queda do poderio europeu Ocidental, o continente voltou a ser dividido, em esferas de influência, desta vez por alas lideradas pelos outsiders EUA e União Soviética, no que o Ocidente cunhou como sendo “guerra fria”. Com o aparente fim desta guerra, particularmente na última década do século XX, o continente quase virou ao esquecimento, talvez porque a ameaça soviética havia desvanecido e ainda não se vislumbrava nenhuma outra ameaça ao poderio do Ocidente. No entanto, à entrada do século XXI, com a descoberta de recursos valiosos no continente, conjugada com a emergência de novas potências ou emergentes, com destaque da China, e o reaparecimento da herdeira-mor da União Soviética, a Rússia, o continente voltou à mira das grandes potências e as suas lideranças têm sido chamadas, muitas vezes, a ter de se posicionar tal como era exigido durante as décadas da guerra ideológica. Leia mais…
Por Edson Muirazeque *
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