Os novos desenvolvimentos em relação ao conflito político-militar no leste da República Democrática do Congo (RDC), mais concretamente na cidade de Goma, não só motivaram a
realização, ontem, em Dar Es Salam, na Tanzânia, de uma Cimeira Extraordinária dos Chefes do Estado e do Governo da SADC como também dominaram o decurso deste encontro de alto nível que foi antecedido, na sexta-feira, pela reunião da Troika do Órgão para assuntos Políticos, Defesa e Segurança que integra Tanzânia (presidente), Namíbia e África do Sul.
Ao que nos foi dado a conhecer, a Cimeira em si, que iniciou por volta das dez horas da manhã, tinha três pontos agendados: a análise dos últimos desenvolvimentos em torno da tensão político-militar no leste da RDC; a avaliação do processo de mediação política em Madagáscar bem como o ponto de situação da implementação das decisões da Cimeira de Maputo relativamente à questão do Zimbabwe.
Até ao fecho da nossa edição decorriam ainda os trabalhos da cimeira e oficialmente nada havia transpirado no que concerne ao posicionamento da SADC face à nova situação vigente na RDC, marcada pela retirada dos militares rebeldes do M23 de Goma, embora o espectro de medo e terror ainda prevaleça, sobretudo no seio da população civil.
O Presidente da República e também em exercício da SADC, Armando Guebuza, chegou, para o efeito, no final da tarde de sexta-feira última a Dar-Es-Saalam tendo mantido instantes depois um encontro de cortesia com o Presidente da Tanzânia, Jakaya Kikwete, na sua qualidade de Presidente do Órgão de Assuntos Políticos, Defesa e Segurança da SADC.
Fontes diplomáticas asseveraram ao domingo que naquele encontro de alto nível esteve efectivamente em evidência a questão do conflito político-militar que opõe o Governo liderado pelo presidente Joseph Kabila e um grupo de militares rebeldes maioritariamente tutsis congoleses, vulgarmente conhecidos por M23, os quais reivindicam, basicamente, uma efectiva integração e tratamento não discriminatório no exército governamental.
Esta rebelião do M23, antes conhecida com o nome de Congresso Nacional para a Defesa do Povo (CNDP), pede ainda o reconhecimento dos graus dos militares após a sua integração nas Forças Armadas da República Democrática do Congo (FARDC).
Para além disso, sabe-se também que a rebelião do M23 reclama ainda pelo respeito dum acordo de paz estabelecido com o governo de Kabila, assinado a 23 de Março de 2009, no qual o regime congolês deveria engajar-se na eliminação do que o movimento rebelde entende como sendo “forças negativas” que operam no leste da RDC, premissa para o regresso de milhares de refugiados congoleses de expressão de origem ruandesa (predominantemente tutsis) em exílio em vários países da sub-região, incluindo o próprio Ruanda.
Objectivamente, até aqui, para além do recuo do M23 da cidade de Goma contam-se apenas uma série de cometimentos e acordos entre as partes sobre vários pontos com o envolvimento directo nas negociações de outros actores tais como o Uganda e o Ruanda. E é em relação a tais pontos que a SADC foi chamada a pronunciar-se na Cimeira de Dar-Es-Salaam.
Mas, momentos depois da reunião da Troika, no princípio da noite de sexta-feira última, o semblante dos integrantes das delegações dos países que fazem parte do Órgão da SADC denunciava uma certa tensão aparentemente decorrente do exercício difícil que caracterizou aquela reunião de um dia, facto até confirmado pelo Secretário Executivo desta organização regional nos seguintes termos: “foi uma reunião difícil como é óbvio, mas foram criadas as condições necessárias para que a Cimeira tenha lugar. Foi difícil pelo conteúdo das matérias a discutir, porque nenhum deles se afigura como um assunto fácil. Como se pode depreender, quer por aquilo que se lê nos “media” assim como nos diferentes relatórios, todos os assuntos têm aspectos muito sensíveis. Mas esta instituição existe mesmo para isso. Portanto, a Cimeira vai tomar decisões importantes que salvaguardem acima de tudo a manutenção da paz e estabilidade na nossa região”, disse Salomão.