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Gás russo fractura o Ocidente!

Por Idnórcio Muchanga

Os Estados Unidos da América e a Alemanha estão de costas voltadas. No centro da discórdia está a Rússia que os EUA gostariam de isolar, através de sanções, para diminuir a sua capacidade económica e, por essa via, reduzi-la a uma potência média negligenciável no sistema internacional. Porém, a estratégia americana – sanções contra a Rússia –não encontra espaço na Europa, com maior destaque para a Alemanha. De facto, os EUA e a Europa, com maior destaque para a Alemanha, têm estado a distanciar-se cada vez mais em vários assuntos como sejam: a questão nuclear iraniana, o comércio internacional, a contribuição na OTAN e, no caso vertente, a forma como se deve lidar com a Rússia.

Se, por um lado, a complementaridade de interesses tem estado a catapultar a cooperação energética entre a maior potência económica da União Europeia (Alemanha) e o maior produtor de gás no mundo (Rússia), por outro, a atitude pouco conciliadora dos EUA para com os seus aliados europeus, mormente a Alemanha, tem estado a fracturar o bloco ocidental que hoje está mais dividido do que unido.

De facto, o incidente do dia 16 do corrente mês, no qual o chefe de Economia e Energia do Parlamento Alemão, Klaus Ernst, rejeitou terminantemente a intenção de os EUA de incrementar sanções contra a Rússia ao afirmar que as sanções não visavam apenas os russos, mas também e deliberadamente aos europeus, confirma esta fractura. Para Ernst as propaladas sanções americanas contra a Rússia visam atingir também as empresasalemãs, francesas, britânicas, holandesas e austríacas, que se calcula terem investido cerca de 1 bilião de euros cada uma delas no gasoduto Nord Stream 2 da Gazprom. Ernst rematou afirmando que a Alemanha não é colónia americana.

Tudo indica que os americanos não estão a avaliar muito bem o papel que o gás russo joga na relação Rússia-União Europeia, com maior destaque para a Alemanha. É facto inegável que fiabilidade do fornecimento do gás natural por parte da Rússia empolga a Alemanha que decidiu construir, juntamente com a Rússia, dois gasodutos, NordStream 1, que ficou pronto em 2011, e o Nord Stream 2, que deverá ficar pronto em 2019. Este nível de negócios energético (gás natural) explica a vontade da União Europeia, principalmente da Alemanha, de retirar as sanções contra a Rússia.

Na realidade, contra todas as expectativas americanas, a Alemanha percebe que o seu interesse nacional é melhor servido tendo o gás russo como fonte de energia para a indústria e para o uso doméstico. Os gasodutos Nord Stream permitem a Alemanha libertar-se do uso do gasoduto que passava pela Ucrânia, país sob o controlo dos EUA e, por isso mesmo, o gás natural não fluía como o esperado para a Alemanha, devido às tensões Ucrania-Rússia.

Importa salientar que a relação energética entre a Alemanha e a Rússia tem efeitos positivos para ambos e efeitos nefastos para os objectivos geopolíticos dos EUA. Em relação à Alemanha com os gasodutos, ela tem a segurança energética garantida e, sobretudo, energia limpa para fazer funcionar a sua economia e continuar a crescer e manter a sua posição de potência económica na Europa e no mundo. Por seu turno, a Rússia, com as receitas do gás, robustece a sua economia e, sobretudo, investe na modernização da indústria militar elevando a fasquia de competição estratégica com os EUA. Contrariamente, os EUA sentem-se desafiados por um adversário que no fim das contas é financiado pelo seu parceiro, a Alemanha, através da compra do gás. A robustez do adversário, Rússia, complica e de que maneira as aspirações americanas de confinar a Rússia às suas fronteiras. Assim, o gás russo, que tem o seu maior consumidor a Alemanha, parceiro dos EUA, torna-se o instrumento de fractura do Ocidente.

Por Paulo Mateus Wache*

PWache2000@yahoo.com.br

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