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Do Eliseu a Aachen – consolida-se a intenção independentista do eixo franco-alemão

Por admin

As outrora “inimigas mortais”, responsáveis pelas maiores carnificinas do século XX, França e Alemanha, reforçaram, semana passada, a vontade de continuarem “amigas”. Pressionadas por vários problemas no espaço da União Europeia, com destaque para a “fuga” do “aliado” ilhéu, mas também pela política de “América primeiro” do “mandão” da potência aliada do outro lado do Atlântico, para além da política externa do vizinho mais a leste e da pressão do gigante asiático, as duas potências continentais renovaram, em Aachen, na Alemanha, o que já tinha sido acordado há mais de meio século, no Palácio do Eliseu, na França. Emanuel Macron e Angela Merkel estreitaram as relações bilaterais, num tratado cuja intenção é manter a Europa continental unida. Na leitura deste caso pode-se dizer, por um lado, que se reconfirma a utilidade da fórmula criada por David Mitrany e, mais tarde, sofisticada por Haas e outros teóricos, no estabelecimento do eixo franco-alemão e, por outro, fortalece-se, ainda mais, a vontade de independência deste eixo. 

Depois da primeira guerra mundial, e mesmo no decurso da segunda, vários teóricos embarcaram numa “missão” de explicar as motivações da guerra e encontrar o melhor mecanismo de evitá-la. David Mitrani notabilizou-se, em 1943, ao ter sugerido que a guerra podia ser eliminada por meio da colaboração em áreas funcionais. O autor acreditava que o sucesso da colaboração numa determinada área técnica, funcional, incentivaria a ramificar a colaboração para outras áreas. Mais tarde, este pensamento foi sofisticado para melhorar ou acrescentar algumas variáveis, a política em particular, que no pensamento original tinha sido marginalizada. 

O relevante sobre Mitrani é que o arquitecto da Comunidade Europeia de Carvão e Aço (CECA), Robert Schuman, então ministro francês das relações exteriores e hoje considerado “pai da União Europeia”, poderá ter-se inspirado no pensamento daquele teórico e seus seguidores. Com efeito, Schuman sugeriu a ideia de integração e gestão conjunta da produção do carvão e aço, uma área técnica, pela França e Alemanha. Segundo os mitranistas, ou teóricos funcionalistas, um acordo como a CECA colocaria os “antigos inimigos” numa teia de interdependência e de ganhos mútuos tal que as respectivas lideranças teriam dificuldade em optar em fazer a guerra. 

Texto: Edson Muirazeque *

edson.muirazeque@gmail.com

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