Numa homilia proferida no domingo passado, o Papa Francisco, líder da Igreja Católica, denunciou a hipocrisia dos países que produzem e vendem armas, pois, por um lado, fomentam guerras no mundo em desenvolvimento, e, por outro, recusam-se a receber refugiados resultantes dessas mesmas guerras. Sem se referir a países em concreto, ficou claro que a mensagem da homilia do Papa era direccionada aos EUA e a alguns países europeus que têm endurecido as políticas anti-imigração. O comportamento dos vendedores de armas pode ser explicado pela vontade, de as grandes potências, amealharem “milhões de dólares” sem se importarem nos efeitos adversos desse encaixe.
A denúncia de Francisco pode ser lida numa relação entre três variáveis: a comercialização de armas, a perpetuação de conflitos e a crise migratória. A produção e venda de armas não é feita pelos países em desenvolvimento, mas sim pelos desenvolvidos. No topo do ranking dos maiores vendedores de armas no mundo estão os EUA e alguns poderosos países do continente europeu. Dados de 2018 indicam, por exemplo, que no top 10 dos maiores exportadores de armas no mundo estão seis países europeus (Rússia, França, Alemanha, Espanha, Reino Unido e Itália). Os EUA lideram a lista, a Ásia tem três países (Coreia do Sul, China e Israel) e África não consta da lista.
Os maiores conflitos violentos são, entretanto, travados não nos países produtores e vendedores de armas, mas sim nos países em desenvolvimento. Há uma grande concentração de conflitos nos continentes africano e asiático. Os maiores conflitos nas últimas três décadas foram, ou estão a ser, travados no Médio Oriente (Afeganistão, Síria, Iémen-Arábia Saudita, Iraque) e em África (Somália-Quénia, Nigéria- -Camarões-Níger-Chade, Sudão do Sul, Mali, Líbia). Os conflitos aqui referidos incluem guerras civis, conflitos fronteiriços, insurgência, terrorismo, violência étnica e conflitos comunais.
Por Edson Muirazeque
* edson.muirazeque@gmail.com