Decorreu entre 23 e 24 de Outubro corrente, em Sochi, a primeira Cimeira Rússia-África. Este é mais um fórum de cooperação que se abre para o continente africano. Na realidade, o fórum Rússia-África é mais uma evidência da consolidação da multipolaridade inclusiva teorizada por Wache e Lundin (2018). Segundo os autores, as relações internacionais hodiernas são caracterizadas pela multipolaridade inclusiva porque o número de potências que disputam o pódio de poder, no sistema internacional, expandiu-se (multipolaridade) para além do pólo de poder tradicional, o Ocidente. E porque a ascensão das potências emergentes não implica a queda do Ocidente nem de outra grande potência estabelecida, implica isso sim a partilha do pódio do poder (inclusão) entre estados cujos elementos de poder os eleva ao estatuto de grande potência no sistema internacional.
China-África (FOCAC), Japão-África (TICAD), Índia-África, EUA-África, França-África, entre outras – confirmam que o sistema internacional é multipolar e inclusivo. O terceiro pressuposto da teoria da multipolaridade inclusiva é sugestivo para o caso dos países africanos, incluindo Moçambique, porque postula que a principal consequência da multipolaridade inclusiva para as pequenas potências é que elas (as pequenas potências) têm, no sistema multipolar inclusivo, mais alternativas de cooperação política, económica, financeira e militar. Assim, os países africanos que até ao início do século XXI estavam atrelados ao Ocidente, com todas as suas imposições, hoje podem negociar de forma mais consentânea com os seus objectivos de desenvolvimento, se os tiver.
Portanto, a cimeira Rússia-África é, na perspectiva da teoria da multipolaridade, mais uma janela de oportunidades ou de ameaças dependendo da existência ou não de uma agenda de desenvolvimento em cada estado africano. O que parece bom nesta transformação do sistema internacional é que não são apenas as fontes de cooperação que se diversificaram, diversos estão ficando também os modelos de gestão dos estados. A democracia tradicional, que era imposta pelo ocidente na década de 1990 (terceira onda de democratização), está em franco recuo em África, sem se passar necessariamente à ditadura. Talvez sejam formas de governos que respondem às condições reais, não impostas, dos estados em questão. Leia mais…
Por Paulo Mateus Wache*
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