A cimeira extraordinária da SADC aprovou na última quarta-feira em Harare, Zimbabwe, a Estratégia e o Roteiro para a Industrialização Regional e o Plano Estratégico Indicativo do Desenvolvimento Regional Revisto. A estratégia, a ser implementada em três fases, abrange o período 2015-2063, significando um horizonte de quarenta e oito anos.
A cimeira extraordinária juntou dez chefes de Estado e de Governo, incluindo o Presidente moçambicano, Filipe Nyusi.
Os líderes da região reafirmaram a importância do desenvolvimento industrial no alívio à pobreza e a emancipação económica dos povos da região.
Falando a jornalistas moçambicanos, o Presidente Filipe Nyusi fez um balanço positivo da cimeira extraordinária da SADC, tendo como base o nível de participação dos estadistas da região, o que significa o compromisso de todos para tirar a zona da miséria e torná-la sustentável.
A estratégia industrial foi alinhada com a visão continental, a Agenda 2063, uma estratégia com vista a maximizar a utilização dos recursos da África para o benefício dos seus povos.
A cimeira sublinhou a importância crítica da infra-estrutura de apoio à industrialização e a necessidade de explorar os mecanismos de financiamento adequado para apoiar a implementação da estratégia de industrialização.
Os chefes de Estado e de Governo instruíram o Secretariado Executivo da SADC para finalizar o desenvolvimento de um Plano da Acção para facilitar a implementação da estratégia e o Roteiro para a Industrialização Regional.
A cimeira aprovou a Revisão do Plano Indicativo Estratégico Regional (2015-2020) que irá orientar a implementação dos programas da SADC nos próximos cinco anos, com grandes áreas prioritárias, nomeadamente, o Desenvolvimento Industrial e a Integração do Mercado.
Os estadistas da região notaram ainda progressos visando o lançamento da Zona de Comércio Livre tripartida agendada para Junho deste ano e exortaram a SADC a COMESA e EAC para finalizar urgentemente o programa de trabalho sobre a industrialização.
O anfitrião da cimeira, o Presidente do Zimbabwe, Robert Mugabe, que é igualmente Presidente em exercício da SADC, disse que apesar dos recursos abundantes da região, 70% da população da região continua a viver na extrema pobreza.
Detalhando o plano de industrialização, Mugabe referiu que o desafio é a exploração dos recursos da região para o benefício dos seus povos por meio de adição do valor e agregação.
Sublinhou que as áreas que a estratégia vai priorizar estão relacionadas com agro-processamento tendo em conta que maior parte dos produtos da região são exportados em bruto.
A região fica assim com pouco retorno e é a ideia dos dirigentes da SADC garantir o processamento na região.
Para o efeito, a SADC vai ter que lidar com uma série de pré-requisitos, como energia, infra-estruturas e desenvolvimento de recursos humanos para garantir o sucesso da estratégia.
Os países da região consideram que não é possível fabricar ou beneficiar-se dos recursos naturais, sem a base de competências necessárias, o que implica um investimento acelerado na capacitação e desenvolvimento dos recursos humanos.
Fonte diplomática alertou que a estratégia não será viável com um déficit de energia eléctrica na região. Por isso, esta é uma área que a região tem que resolver, incluindo as infra-estruturas como estradas e ferrovias.
A mesma fonte sublinhou que a estratégia de industrialização sugere que algumas dessas coisas devem ser feitas localmente e outras a nível regional.
Reina o sentimento comum de que a SADC deverá alavancar os seus abundantes recursos naturais para o financiamento da estratégia, o que significa que não irá contar com o financiamento dos doadores.
“ A nossa estratégia de industrialização não está à procura da ajuda, mas sim de negócios através de uma forte parceria entre o governo e o sector privado”, este é o compromisso dos chefes de Estado e de Governo da SADC.
A estratégia também deverá gerar grande transformação económica e tecnológica ao nível nacional e regional com vista acelerar o crescimento e reforçar vantagens comparativas e competitivas das economias dos países da região.
A política aprovada na cimeira de Harare será implementada a partir de agora até 2063, altura em que se espera que a região deverá ter atingido altos níveis de crescimento.
O presidente Robert Mugabe frisou que a região tem recursos abundantes que devem beneficiar a SADC do que outra pessoa neste mundo através do aumento de retornos.
No seu estilo característico, Mugabe considerou a cimeira “um sucesso retumbante” que levará a integração da região economicamente.
“Se permanecermos exportadores de matérias-primas não chegaremos a lado nenhum, porque as outras economias vão prosperar à nossa custa. Por isso temos que inverter esta tendência agregando valor aos nossos produtos ”- acrescentou o estadista zimbabweano.
Recordou que o foco na redução das tarifas não trouxe alegria aos nosso povos, sendo necessário a adoção de políticas eficazes que estimulem o crescimento económico.
“ É imperativo adoptarmos uma mudança de paradigma que reconhece uma estratégia de adição de valor e de agregação ao nível regional e para tal o plano de infra-estruturas deve estar em consonância com a estratégia industrial”, precisou o Presidente Mugabe.
“Vamos puxar pelas nossas mentes para encontrarmos maneiras de erradicar a pobreza como desiderato para alcançarmos os ideiais dos fundadores da SADC e da África como um todo”- enfantizou o líder zimbabweano.
Mugabe disse que a paz e a estabilidade são importantes para o desenvolvimento, sendo esta a razão que norteou a criação do centro regional da paz em Harare pelos países da SADC em 1996.
O centro de treinamento da paz prepara civis e pessoal de segurança para lidar com crises ou instabilidades políticas na região permitindo a SADC ter um papel de liderança na manutenção da paz na região.
Já no encerramento da cimeira extraordinária da SADC, Robert Mugabe disse que cada país apresentou a sua experiência em relação a exploração dos recursos naturais.
Ele afirmou que a sua exportação em bruto não traz nenhum retorno e também ficou evidente que cada país que sem uma estratégia global, cada país em particular não vai desenvolver em tudo, sendo necessária a conjugação de esforços de uma forma integrada.
Mugabe lembrou que “se você olhar para os países que conquistaram sua independência na década sessenta tem havido pouca mudança em relação ao período pré-colonial. Porque isso? Será que não temos recursos? Temos sim, mas não temos capital”, explicou.
Apontou que os países africanos produzem muito cacau mas não produzem chocolate… os chocolates são feitos na Suíça com cacau da Costa do Marfim, do Gana e de outros países que produzem cacau.
“Nós somos ricos em recursos e vamos explorar nós mesmos esses recursos, não vamos deixar que sejam os outros a explorar os nossos recursos e enriquecer a eles. Este foi o tópico mais importante da cimeira. Vamos construir nossas próprias indústrias e deixar que sejam os nossos jovens a gerir”– sintetizou Robert Mugabe.
Avelino Mucavele, em Blintyre, Malawi
Fotos de M. Vombe