A Igreja Ortodoxa do Oriente vive uma crise que parece ter desembocado no cisma (ruptura ou separação). A crise tem três actores principais, nomeadamente: Cirilo, patriarca de Moscovo, Bartolomeu, patriarca ecuménico de Constantinopla (Istambul), e Petro Poroshenko, presidente da Ucrânia. Foi Poroshenko que, em Abril de 2018, enviou ao patriarca Bartolomeu, da Igreja Ortodoxa ecuménica de Constantinopla, o pedido de tornar a Igreja Ortodoxa da Ucrânia autocéfala (independente) da Igreja Ortodoxa Russa, à qual se subordinava desde 1686.
Importa realçar que por Igreja Ortodoxa do Oriente refere-se ao conjunto de Igrejas cristãs autocéfalas que resultaram do cisma do Oriente que ocorreu em 1054 separando a Igreja Ortodoxa do Oriente, com sede em Constantinopla, que reconhece o primado e honra do Patriarcado ecuménico de Constantinopla, da Igreja Católica do Ocidente com sede em Roma e dirigida pelo Papa.
O pedido de Poroshenko insere-se no conflito Kiev versus Moscovo caracterizado pela atitude pró-ocidental de Kiev, que tem estado a estreitar laços com a União Europeia em detrimento de relações amistosas com a Rússia, e pela reacção agressiva de Moscovo, que em 2014 anexou o território ucraniano da Crimeia. Mas a pergunta que permanece é: qual é a ligação entre a Igreja Ortodoxa, diga-se, religião, e as questões políticas entre Kiev e Moscovo? Vários aspectos podem ser apontados para explicar o nexo entre Igreja Ortodoxa do Oriente e o poder político, contudo neste artigo apresenta-se apenas o Cesaropapismo como o principal factor de ligação.