Jair Bolsonaro anunciou no dia 8 de Março de 2019 que no segundo semestre do ano em curso irá visitar a China e que as relações entre o Brasil e a China vão melhorar. Estas declarações foram feitas depois da recepção das cartas credenciais do novo embaixador chinês, Yang Wanming. Esta possível visita do Presidente brasileiro à China contraria o posicionamento hostil de Bolsonaro durante a campanha eleitoral em 2018.
Durante a campanha eleitoral Bolsonaro afrontou a China de várias formas. Dentre elas se destaca o facto de ter visitado o Japão e a Coreia do Sul ignorando a China nesse roteiro. Ademais, Bolsonaro visitou Taiwan desafiando o princípio chinês de Uma Só China, aceite pelo Brasil, segundo o qual Taiwan pertence a China e, por isso, as relações diplomáticas devem ser com a China e não com Taiwan. Para além de ter mostrado o desagrado em relação ao investimento chinês no sector mineiro ao ter afirmado que a China estava a comprar o subsolo brasileiro. Esta antipatia em relação à China parecia que iria prosseguir depois da sua eleição, o que confirmaria a sua simpatia pelo Ocidente e a alcunha de “Trump Tropical”.
Na realidade, a abordagem de Bolsonaro candidato deitava abaixo todo um esforço dos governos do Partido Trabalhista de Lula da Silva e Dilma Rousseff (2003-2016). Um esforço multifacetado que resultou na constituição do forum BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), cujas ambições e actividades alteraram a estrutura do poder do Sistema Internacional que transitou da fase unipolar para a multipolar inclusiva. Na realidade, o candidato Bolsonaro ao afastar-se da China estava a afastar-se do fórum mais poderoso do período pós-guerra fria. Um afastamento que reduziria o Brasil a um satélite dos Estados Unidos da América.
As declarações de Bolsonaro, presidente, aquando da recepção das cartas credenciais de Yang Wanming mostram que campanha eleitoral é totalmente diferente do acto de governar. Bolsonaro enquanto governante sabe de coisas que provavelmente não sabia enquanto candidato. Factos no terreno mostram que, em 2017, o comércio entre os dois países alcançou a cifra de 75 mil milhões de dólares americanos, que desde 2003 a China investiu mais de 124 mil milhões de dólares americanos e que no segundo mandato de Dilma Rousseff (2010-2016) o investimento subiu 37%, tornando a China o principal parceiro comercial do Brasil.
Por Paulo Mateus Wache*