Desengane-se quem pensou que a mudança de liderança nos EUA, de Trump para Biden, iria mudar a forma como Washington lida com outros Estados, sejam eles aliados ou adversários. Embora com um estilo de governação diferente do seu antecessor, Biden provou, mais uma vez na semana passada, que ele é americano e o slogan “América Primeiro” do “inconsequente” Trump continua a moldar a política externa de Washington. Num ápice, a França perdeu, a favor dos EUA, um negócio multimilionário com a Austrália e os europeus recebem o recado de que são “inúteis” nos assuntos do Indo-Pacífico. EUA, Reino Unido e Austrália formalizaram um Pacto de Segurança tendente a conter a ascensão da China no Indo-Pacífico.
Muitos líderes europeus, e do mundo em geral, certamente respiraram de alívio quando os resultados das últimas eleições presidenciais nos EUA deram vitória a Joe Biden e negaram um segundo mandato a Donald Trump. O ponto é que o mundo assistiu a uns quatro anos de política externa dos EUA conturbada sob presidência de Trump. O antecessor de Biden não só havia definido o slogan “América Primeiro”, como também não se importava em “atropelar” aliados europeus históricos dos EUA quando se tratasse de defender o que ele percebia como sendo do interesse nacional do seu país. Aliás, a sua política externa parecia focalizada em amealhar o máximo de milhões de dólares possíveis, não se importando com os danos colaterais da sua acção externa. Trump era imprevisível e os aliados europeus dos EUA nunca sabiam o que estava por vir de Washington. A política externa sob presidência de Trump foi caracterizada pelo unilateralismo e pela tentativa de impor a sua posição sobre os outros Estados, incluindo os seus aliados.
A eleição de Biden trouxe a “ilusão” de que uma mudança ocorreria em Washington, e que talvez a ideia da “América Primeiro” seria abandonada. Biden trouxe a expectativa de que haveria uma maior abertura à colaboração, ou concertação de posições, dos EUA com os seus aliados tradicionais. No entanto, o anúncio do Pacto de Segurança no Indo-Pacífico entre os EUA, Reino Unido e Austrália é uma “apunhalada nas costas” da França e é um aviso de que os europeus estão “fora de jogo” no que aos assuntos da região do Indo-Pacífico diz respeito. Leia mais…