O ataque à maior refinaria da Arábia Saudita, Saudi Aramco, em Abqaiq, no dia 14 de Setembro de 2019, gerou um alvoroço na economia mundial. E não é para menos. A Arábia Saudita é o maior exportador de petróleo do mundo. A consequência imediata foi a subida do petróleo, tanto o brent como o crude, em aproximadamente 20 por cento. Porém, a maior incógnita que fica por esclarecer é: quem terá sido o autor dos ataques? Para os Estados Unidos da América e a Arábia Saudita, o ataque foi perpetrado pelo Irão, mas este recusa a autoria do ataque. Paradoxalmente, o grupo rebelde do Iémen, combatido pela coligação liderada pela Arábia Saudita, assume a autoria do ataque.
A dificuldade de identificar o autor do ataque, que se supõe feito com recurso a drones, pode ser, em parte, explicada pelo conceito ou teoria de Complexo de Segurança Regional. Numa explicação simples, Complexo de Segurança Regional refere-se à dificuldade de analisar isoladamente as preocupações de segurança de um grupo de Estados geograficamente contíguos. Esta teoria de Barry Buzan e Ole Waever (2003) defende que as preocupações de segurança nacional dos Estados geograficamente próximos são tão interligadas que não podem ser tratadas independentemente. Nessa mesma linha, este artigo argumenta que o ataque à refinaria da Arábia Saudita não pode ser analisado isoladamente, tem de ser inserido no complexo de segurança regional, sem ignorar os actores sistémicos.
No caso do complexo regional, sabe-se que desde 2011 que o Médio Oriente mergulhou numa onda de revoltas populares que o Ocidente apelidou de Primavera Árabe. Em alguns casos, como na Tunísia e Egipto, as revoltas mudaram regimes, mas não degeneraram em guerras civis, enquanto noutros países as revoltas transformam-se em guerras civis, tais são os casos da Líbia, Síria e Iémen. No Iémen, por exemplo, o Governo de Ali Abdullah Saleh foi deposto em 2011 e em 2012 tomou o poder o Presidente Mansour Hadi Abdrabbuh. Contudo, o grupo rebelde xiita fundado em 2004 por Hussein Badr al Din al Houthi reorganizou-se e conquistou, em 2015, grande parte do território iemenita. Esta ascensão dos discípulos de Houthi também conhecidos por Houthis provocou a ira da Arábia Saudita, que tratou de organizar uma coligação que inclui Kuwait, Emirados Árabes Unidos, Egipto, entre outros, para lutar contra os “rebeldes Houthis”, que têm o apoio do Irão e do Qatar. Leia mais…
Por Paulo Mateus Wache*
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