Foi sem muita surpresa, pelo menos para quem está a acompanhar o processo da preparação das eleições que a Comissão Nacional Eleitoral Independente (CENI) da República Democrática do Congo (RDC) anunciou o adiamento das eleições por uma semana. De facto, as eleições estavam previstas para dia 23 de Dezembro e foram adiadas para o dia 30 do mesmo mês. A causa imediata do adiamento foi o incêndio que no dia 13 de Dezembro destruiu oito mil urnas electrónicas, correspondente a 80% do total do material necessário, tendo por essa via, criado condições para o adiamento das eleições. A destruição do material electrónico acontece num contexto eleitoral em que a oposição e o Ocidente discordam com o uso da votação electrónica e, por isso, após o incêndio o Governo acusou a oposição de ter posto fogo no armazém onde se encontravam os materiais de votação.
O adiamento é, então, uma tentativa do Governo de Kabila de ganhar tempo para repor o material electrónico destruído pelo incêndio. A reposição do material enfrenta dois obstáculos principais: o primeiro, tem a ver com o tempo, pois, quando o incêndio aconteceu faltavam apenas dez dias para a realização das eleições. Tendo em conta que os materiais electrónicos destruídos são importados, a sua reposição leva um tempo superior a dez dias. A bem da verdade, essa reposição é quase impossível em dezassete dias – que é o tempo que a CENI vai ter com o aumento de sete dias resultantes do adiamento – o que facilita a ocorrência de irregularidades e, sobretudo, levanta inúmeros “fantasmas” relacionados à transparência do processo.