Em face a uma cada vez crescente contestação à sua intenção de concorrer a um quinto mandato, o presidente da Argélia, Abdelaziz Bouteflika, anunciou a sua desistência mas, entretanto, decidiu prolongar o seu quarto mandato por tempo indeterminado. Numa “manobra” que parecia estar a ceder às exigências dos manifestantes, Bouteflika renunciou concorrer ao penta-mandato consecutivo e remodelou o governo, alegando ser uma resposta às exigências dos manifestantes. Porém, os manifestantes, que não se deixaram “enganar” pela “manobra” do presidente ou seus partidários, acorreram às ruas na passada sexta-feira e a sua exigência passou do contra penta-mandato para “fora da presidência já”. A “manobra”, que pode ser interpretada como uma tentativa de “ganhar tempo” por parte dos bouteflikistas, acabou sendo um “tiro que saiu pela culatra”, com o risco daqueles “perderem tudo”.
A novela em torno da candidatura de Bouteflika havia tomado um novo rumo, na passada segunda-feira, quando o presidente anunciou que desistia da intenção de concorrer a um quinto mandato. Este pronunciamento dava a entender que o presidente ouvira os clamores do seu “povo” e estava a tomar medidas para satisfazer os seus anseios. Porém, na mesma comunicação em que se anunciava a desistência do “penta”, ficou-se a saber que as eleições marcadas para o próximo dia 18 de Abril não mais se realizariam, que o governo estava a ser remodelado e que uma Conferência Nacional seria convocada para fazer consultas rumo à redacção de um novo texto constitucional que, talvez até o final do ano, seria submetido a referendo para o “povo decidir”. Só nessa altura é que se pensaria na nova data para as eleições presidenciais, o que significaria, portanto, o prolongamento do quarto mandato do presidente.
As aparentes concessões de Bouteflika podem ser interpretadas como uma corrida contra o tempo por parte dos “bouteflikistas”. Outrora convencidos que o nome do presidente era suficiente para manterem-se no poder, as manifestações contra o penta-mandato de Bouteflika “apanhou em contrapé” os boutefllikistas. Talvez acreditando que com o quinto mandato haveria espaço para uma transição intrapartidária leve, os bouteflikistas ficaram ainda mais surpresos ao saber que o “povo” não só quer o fim da era do presidente Bouteflika, como também não vêem com bons olhos a figura do primeiro-ministro, Ahmed Ouyahia, que talvez seria o “substituto natural” do presidente. Leia mais…
Por Edson Muirazeque *