O ambiente tenso que acompanha a história do Mali é também fragilizado pelo papel das Forças Armadas Malianas, que estão mais dispostas a fazer golpes de estado do que defender o estado. Importa realçar que as Forças Armadas do Mali já vão no seu quarto golpe de estado desde a independência do Mali em 1960. O primeiro golpe foi em 1968, tendo sido deposto o Presidente Modibo Keita, o segundo ocorreu em 1991, quando Moussa Traoré foi deposto, o terceiro deu-se, em 2012, com a deposição de Amadou Toumani Touré acusado de não conseguir parar as incursões tuaregues. O mais recente golpe de estado (o quarto) deu-se no dia 19 de Agosto de 2020, com a deposição de Ibrahim Keita, acusado de não ter sabido gerir as questões pós-eleitorais.
Na realidade, Keita nunca teve tempo para governar de forma construtiva o seu estado, ele teve de recorrer a manobras dilatórias para lidar com os diversos assuntos de segurança que o Mali enfrenta. Aliás, é preciso lembrar que ele ascende ao poder, em 2013, depois de Touré ter sido afastado por causa da actuação dos Tuaregue. Keita, durante os sete anos da sua governação, recorreu à estratégia da demissão dos governos para acalmar os manifestantes. Por exemplo, entre Setembro de 2013 e Agosto de 2020, Keita teve de demitir cinco Primeiros-ministros, nomeadamente: Oumar Tatam Ly, Moussa Mara, Modibo Keita, Abdoulaye Idrissa Maiga e Soumeylou Boubèye Maïga. Portanto, o Primeiro-ministro Boubou Cissé, que estava no poder aquando do golpe de estado de 19 de Agosto de 2020, era o sexto no cargo em apenas sete anos, perfazendo uma média de catorze meses para cada um dos Primeiros-ministros. Este é um sinal inequívoco da instabilidade dos governos de Mali e, consequentemente, de toda a sociedade. Leia mais...
Por Paulo Mateus Wache*
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