Enfim, é o nosso “modus vivendi”. Entrando no assunto de hoje, vem a propósito do facto dos humanos por sua natureza serem religiosos, ordenado a transcenderem-se a si mesmos, por isso vivem desde sempre entre dois mundos: o real palpável e o imaginário. O conceito que as novas gerações têm sobre a morte é de longe diferente, para não dizer diametralmente oposto ao que eu tinha quando ostentava a idade desta nova geração. No tempo da minha mocidade, o defunto, acabadinho de desencarnar, não tinha o estatuto que lho dão hoje. Porque era considerado alguém que sem mais nem porquê, saía do convívio dos vivos (passe a cacofonia), e ia para um lugar incerto: “a bihide – ficou feio”; “a mwalade – desapareceu”; “a hi side – deixou-nos” (na língua das minhas avós a CiCopi). Por isso é que, nas exéquias, somente participava gente idosa, única que sabia a localização do lugar onde eram depositados os restos mortais dos recém-falecidos, cujo nome (desse lugar) era tabu, conhecê-lo ou mesmo apontar a direcção da sua localização, sob o risco de o dedo separar-se da mão e cair. Ao passo que os ancestrais falecidos há muito tempo (que nunca tinham tido convívio com nenhum dos das novas gerações), atribuía-se-lhes um estatuto de espíritos divinos (“ti nguluve” ou “si dízimo”). Portanto, tinham potencialidades de interferir na vida dos seus descendentes vivos, fazendo-lhes bem ou mal, consoante o seu comportamento (dos vivos). O lugar onde se enterram os restos mortais dos recém-falecidos não tem nome na língua cicopi. Até hoje. Leia mais...
Por Kandiyane Wa Matuva Kandiya
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