
Para entender o significado da decisão é preciso conhecer a história do edifício em causa. Santa Sofia é um edifício majestoso construído entre 532 e 537 d.C., pelo Império Romano do Oriente, um império teocrático cristão, também chamado Império Bizantino, para ser a catedral de Constantinopla (capital do Império) actual Istambul, capital da Turquia. A queda do Império Romano do Oriente, derrotado pela jihad muçulmana, em 1453, levou à transformação da catedral em mesquita, sob umbrela do império Otomano, um império teocrático islâmico, que viria a desmoronar-se no fim da Primeira Guerra Mundial, em 1918.
À derrota do império Otomano seguiu-se um período de guerras que desembocaram na independência da Turquia, em 1923, e consequente ascensão de Moustafa Kemal, mais conhecido como Ataturk (que em turco quer dizer “pai dos turcos”). Foi Ataturk que transformou o estado turco em laico sob a filosofia da construção do nacionalismo turco. Aboliu a lei Islâmica, impediu o uso da burca, estabeleceu a igualdade entre homens e mulheres, decretou a liberdade religiosa, introduziu conteúdos seculares na educação, entre outras transformações. Foi neste contexto de laicização do Estado Turco que Ataturk transformou, em 1935, a Mesquita da Santa Sofia em museu. Uma decisão que acaba de ser revertida por Erdogan, que optou por voltar a dar à Santa Sofia o “status” de mesquita. Assim, o majestoso edifício da Santa Sofia que foi sucessivamente uma catedral entre 537 e 1453, mesquita entre 1543 e 1935, museu entre 1935 e 2020, agora é novamente uma mesquita, parece obedecer à lei do eterno retorno. Leia mais...
Por Paulo Mateus Wache*
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