Cerca de 70 pessoas vítimas da burla protagonizada por um grupo que se auto-intitula de “Associação Ajuda Mútua” decidiram prescindir da recepção dos juros e receber apenas o capital que depositaram naquela iniciativa que foi classificada pelo Banco de Moçambique como ilegal, fraudulenta e insustentável.
A decisão foi tomada na manhã de sexta-feira num encontro realizado no monumento de Mahlazine, na cidade de Maputo, onde este grupo pretendia apurar os avanços registados após o bloqueio das contas dos operadores daquela operação. Entretanto, os gestores da iniciativa alegam que o dinheiro só será restituído quando as contas forem desbloqueadas depois dos trabalhos de investigação agora em curso e que envolvem bancos, Polícia e procuradoria.
Porque começa a haver algum desespero, os burlados tomaram a decisão de intentar uma acção judicial contra a “associação”, que já se sabe que não possui nenhum registo legal e já estão a ensaiar mecanismos para contratar um advogado que lhes deverá assistir nas discussões sobre as vias a usar para recuperarem o seu dinheiro.
Os 70 defraudados que se reuniram na semana passada criaram igualmente um grupo no whatsApp por via do qual pretendem trocar informações sobre a evolução do caso, uma vez que o representante da referida associação, Abílio Nhabinde, já não se manifesta disponível para dialogar com as suas vítimas.
A título de exemplo, na sexta-feira, dia 29 de Julho, recusou-se a comparecer em Mahlazine, supostamente porque estava no “encerramento da sessão da Assembleia da República” que, entretanto, teve lugar na quinta-feira, dia 28 de Julho.
Perante esta resposta, o grupo de enganados fez um telefonema para Nhabinde que afirmou que não fazia sentido reunirem-se “sem que houvesse alguma novidade”. “Mesmo essa reunião de hoje (sexta-feira) aconteceu porque houve alguma insistência por parte de alguns membros. Não nos podemos reunir só por reunir. Dependemos do curso do processo”.
Porque esta resposta não satisfez as vítimas, Nhabinde insistiu dizendo que a “associação” está à espera da resposta do Banco de Moçambique que está a investigar a origem do dinheiro e a licitude dos movimentos feitos, para depois baixar o processo para a procuradoria. “Estamos a tratar de tudo com o nosso advogado que é o nosso piloto”.
A nossa Reportagem captou a conversa entre as vítimas. O representante da “Associação Ajuda Mútua” disse ainda que a agremiação não tem escritório porque “num momento de pânico ninguém te dá casa”. Esta resposta também não agradou os lesados e Nhabinde acrescentou que “quando se chegar à conclusão de que o dinheiro não é ilícito é de se esperar que o mesmo seja devolvido. Eu também preciso do dinheiro”.
COM MEDO DA IMPRENSA
Apesar de num primeiro momento as vítimas terem exibido um certo ar de tranquilidade, o encontro de sexta-feira evidenciou que o estado de espírito destes começa a desvanecer e as interrogações recrudescem. Por exemplo, quiseram saber se o dinheiro que está congelado é suficiente para distribuir pelos visados.
Nhabinde respondeu que não estava em condições de garantir que o dinheiro disponível nas contas seja suficiente para restituir a todos porque se, por exemplo, alguém(do banco) tirar algum pode, por essa via, abrir um buraco. Aliás, reiterou que se o grupo tiver de pagar alguma multa, será mais um buraco.
As vítimas insistiram que desejavam manter um encontro com Abílio Nhabinde. “Aqui há um consenso. Os membros estão a pedir uma reunião por semana com o senhor Nhabinde para acompanharem a evolução da situação” e a resposta que obtiveram foi que “para mim isso não é problema. Se neste momento não me encontro é porque esta era a semana do encerramento da sessão da Assembleia da República. Podemo-nos reunir. É muito simples”.
Entretanto, quando o grupo comunicou que o encontro seria realizado no monumento de Mahlazine, na próxima sexta-feira, Nhabinde retorquiu que já tinha avisado para evitarem estar aglomerados em locais públicos porque a Comunicação Social está à caça para criar mais agitação.
“No último encontro sugerimos a criação de clubes nos bairros para evitarmos a imprensa. Temos de evitar ter muitas pessoas no mesmo sítio porque neste negócio participam pessoas de vários extractos sociais e com comportamentos muito diferentes. Temos de contar com isso”, frisou.
Vozes do grupo questionaram de imediato qual era a proposta de Abílio Nhabinde e este respondeu que ia analisar. “Por mim é só uma questão de me informarem. Faço-me presente”. Entretanto, quando soube que foi criado um grupo no whatsApp, a conversa mudou de rumo. “Evitem resolver este assunto através da comunicação social ou das redes sociais”, ordenou.
A desculpa para esta posição é que “todos falam de mim e ligam-me. Falo ao telefone de manhã até a noite, todos os dias. Só desligo o telefone quando acaba a carga. O que gostaria que todos soubessem é que sou um membro e colaborador que procura ajudar a todos para que isto funcione bem. Não posso ser colocado “entre a espada e a parede”.
Cada vez mais aflitos, os lesados quiseram saber se Nhabinde tinha um número alternativo, que não esteja a ser “vigiado” pelas autoridades policiais e a resposta veio de pronto. “Os meus números são públicos. Se desligo os meus chefes vão-me procurar e não me vão encontrar. Sou público”.