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Católicos confiantes numa solução pacífica

Por admin

Texto de Domingos Nhaúle, Idnórcio Muchanga e Fotos de Jerónimo Muianga
 
Crentes da Igreja Católica mostram-se optimistas quanto ao encontro entre o Presidente da República, Filipe Jacinto Nyusi, e o líder da Renamo, Afonso Dhlakama, para o desanuviamento da tensão política que se regista no país desde o rompimento unilateral por parte da liderança da “perdiz” do diálogo político no Centro de Conferências Joaquim Chissano.

Intervindo semana finda por
ocasião das celebrações do
Jubileu dos 75 anos da Arquidiocese
de Maputo, fiéis
da Igreja Católica apelaram
à liderança da Renamo a pautar
por acções de fortalecimento da
democracia.

Para eles, é através do diálogo
que se podem encontrar consensos
para a construção de um
Moçambique próspero e seguro.No seu entender, já é tempo
de se colocar fim ao terrorismo e
encontrar-se formas de trazer a
liderança da Renamo ao convívio
com o povo moçambicano, que
já havia esquecido as mágoas da
guerra dos 16 anos.
O Arcebispo da Arquidiocese
de Maputo, Dom Francisco Chimoio,
instou os moçambicanos a
não desanimarem na procura de
soluções para o fim da tensão.
“A paz é um bem inestimável,
uma riqueza que deve
beneficiar a todos e não a
alguns grupos que detêm o
poder político e económico.
Todos nós temos que repudiar
as tendências de nos desviar
da unidade nacional. É urgente
que nos empenhemos na
construção do país através
da inclusão social e política”,
disse.
Por seu turno, o Primeiro-
-Ministro, Carlos Agostinho do
Rosário, afirmou que o verdadeiro
sentido do jubileu é ser alegre,
criar alegria aos outros, ter
compaixão para com os outros,
isto é, viver em paz e amar ao
próximo.
“Assim, gostaríamos de
convidar a todos os presentes
a exaltar e pôr em prática
os valores mais nobres de
ser crente, como o perdão, a
reconciliação, a amizade, o
amor ao próximo e a concórdia.
Estes são alguns pilares
para o fortalecimento de uma
sociedade estável, em paz e
unida”, disse Carlos do Rosário.
Para o Presidente do Conselho
Municipal da Cidade da Matola,
Calisto Cossa, a acção humana
perde sentido na falta de
amor ao próximo. “Ainda que
sejamos dirigentes dos conselhos
municipais, se não temos
paz e amor dentro de nós não
somos nada. A paz não procura
interesses, não se alegra
com a injustiça, regozija-se
com a verdade”, disse o edil
numa breve intervenção em
nome das cinco autarquias que
compõem a arquidiocese, nomeadamente,
Namaacha, Boane,
Matola, Maputo e Manhiça.
Convencer o líder
da Renamo a dialogar

Joaquim Chissano, antigo estadista moçambicano
O antigo Chefe do Estado moçambicano,
Joaquim Alberto Chissano, considera haver
condições para se ultrapassar o diferendo
que se regista no diálogo político.
Considerou que a via mais rápida para
o efeito é os moçambicanos convencerem o
líder da Renamo a aceitar o convite do Presidente
da República para um frente-a-frente
a dois.
Segundo defendeu, mas do que fazer
acusações ou troca de palavras via Imprensa,
o importante é compreender que o povo
moçambicano não tem saudades da guerra,
razão pela qual a liderança da Renamo deve
abandonar a veia belicista e transformar-se
num partido político.
“A mensagem principal é a necessidade
de preservação da paz e a igreja está
muito empenhada neste processo do combate
pela paz e unidade nacional. Portanto,
na senda destas celebrações, os moçambicanos
são chamados a estarem cada
vez mais unidos em prol da paz que, antes
de tudo, deve ser criada no íntimo de cada
cidadão para depois ser transmitida a outrém”,
disse Chissano.
Reconciliar os
moçambicanos

– Teodato Hunguana
Teodato Hunguana, um dos negociadores
do Acordo Geral de Paz (AGP), considera haver
necessidade de promoção de acções conducentes
à reconciliação efectiva entre os moçambicanos
que, vinte e três anos após a assinatura
do acordo, ainda não conhecem o verdadeiro
sentido da palavra paz.
Segundo vincou, a homilia do próprio arcebispo
Dom Francisco Chimoio foi bastante
elucidativa nesse aspecto, ao incidir sobre a necessidade
de os cidadãos promoverem acções
para a preservação da paz e amor ao próximo.
“O que sinto é que os políticos deveriam
aproveitar este espaço para exaltar a
paz. Portanto, não procurar subterfúgios,
mas viverem profundamente as mensagens
apresentadas pelo clero, como, por exemplo,
a de um representante de uma igreja
que disse que deveríamos cantar e dançar
mais vezes aquela “Sagrada Marrabenta da
Paz” que cantamos e dançamos no Estádio
da Machava,” disse Teodato Humguana
Na sua óptica, tudo que vai em direcção
oposta à reconciliação, à paz, unidade nacional
é inimigo do povo e deve ser combatido energicamente
.
“Portanto, o que posso sublinhar é que
há necessidade de todos os quadrantes se
reconciliarem no sentido de salvar Moçambique,
isto é, não se pode deixar que o país
seja mergulhado no abismo como é pretensão
de alguns grupos hostis à reconciliação
nacional”, disse Hunguana.
Sobre a exigência do líder da Renamo, de
se revisitar o AGP, Hunguana disse tratar-se de
mais um pretexto para desviar os moçambicanos
da reconstrução do país.
Já houve um tempo em que foi necessário
clarificar os equívocos que se tentaram
criar à volta do acordo e fizemo-lo. Essa referência ao AGP não passa de um pretexto
porque se hoje estamos nesta situação não
é por causa deste documento. As correntes
que agora dizem que foi mal elaborado
e/ou não foi devidamente implementado
estão à procura de culpados ou de bodes
expiatórios e não é isso que se pretende no
país neste momento, apontou.
Relativamente ao impasse no diálogo político,
o nosso entrevistado afirmou que as
conversações não podem ser feitas por via dos
media, tendo recordado que durante os dois
anos das negociações de Roma os assuntos
não foram levados à Imprensa.
“Não estou informado sobre o que está
a acontecer nos bastidores, mas tenho
esperança de que no fim vai prevalecer o
bom senso. Portanto, a minha esperança é
a de que aquilo que se está a passar no
diálogo não seja apenas o que está diante
dos nossos olhos, porque isso não nos fortalece.
A esperança é que não seja tudo e
que possam surgir factos e processos que
nos reconduzam à paz efectiva e duradoira”,
rematou Hunguana.
Erguer quartéis para a paz

– Marcos Macamo, Conselho Cristão de Moçambique
“O quartel criado pelo partido Renamo podia
ser transformado num quartel de paz . Temos
que tomar o termo quartel e trabalhá-lo
noutra perspectiva. Também há que trabalhar
as nossas próprias palavras”, assim se pronunciou
o reverendo Marcos Macamo, secretário-geral
do Conselho Cristão de Moçambique.
Sublinhou acreditar na solução pacífica do
diferendo através de um encontro entre as duas
lideranças.
O nosso entrevistado sugeriu marchas pelo
país, envolvendo moçambicanos cantando em
torno de mensagens de reconciliação, amor e paz.
As conquistas devem
beneficiar a todos

– Vânia Paulino, da Sé Catedral
“A discórdia que reina no diálogo
político gera um ambiente e ambições
desmedidas, o que põe em causa o bem-
-estar do próximo porque cada um puxa
a razão para si. Como igreja temos que
desenvolver sentimentos de compaixão
entre irmãos e fazer com que reconheçam
que as conquistas que devem beneficiar
a toda sociedade, isto é, cultivar-
-se o espírito de solidariedade entre os
moçambicanos”, palavras Vânia Paulino
quando questionada sobre que passos devem
ser seguidos para que o país volte a
respirar a paz efectiva.
Sublinhou que a paz deve começar na
própria família, onde os cidadãos são chamados
a assumir a dianteira para que seus
filhos não sejam usados como promotores
da guerra para matar outros moçambicanos.
“Os políticos têm que responder aos
anseios do povo, encontrando-se paraultrapassar as diferenças e isso requer envolvimento
de toda sociedade, onde cada cidadão
tem responsabilidade na preservação da paz”,
disse Vânia Paulino.
Falta coerência
e amor nos políticos
– Julieta Jambo, da Igreja Santo António da Polana
Julieta Jambo apelou aos políticos a pôr em
prática, através de actos concretos, os discursos
segundo os quais são amantes e promotores da
paz. “ O que está a faltar é seriedade, coerência
e amor dentro dos corações dos políticos,
uma vez privilegiarem a ganância pelo poder
e bens materiais em detrimento do interesse
nacional. Não é correcto que uma parte das
pessoas esteja no Parlamento e outras armadas
no mato”, disse.
Segundo a nossa entrevistada, os líderes políticos
devem lutar pelo bem espiritual e não pelo
poder porque este é passageiro enquanto a vida
e o comportamento exemplar são fontes de inspiração
para a sociedade.
“Eles têm que ter ouvidos para ouvir o
grito da população, porque no fundo nós é
que sofremos com a guerra enquanto eles
estão bem, pois, nunca sofrem directamente
os efeitos das balas disparadas ao longo das
estradas ou nas matas, declarou.
Líderes religiosos
devem reunir com Dhlakama
– Cardoso Nhongo, Paróquia São João Baptista do Fomento
O coordenador da Comissão da Justiça e
Paz na Arquidiocese de Maputo, Cardoso Nhongo,
diz que, tal como no passado, é chegada a
hora de chamar as igrejas na facilitação do encontro
entre as duas lideranças.
“A igreja tem que continuar a desempenhar
o seu papel de pacificador, pois trabalha
iluminado por Deus, razão pela qual
não pode ficar alheia do diálogo político.
Por isso, exigimos o fim da tensão política
e que seja envolvida no diálogo para amainar
os ânimos das partes quando se desentenderem”,
disse Nhongo.
E acrescentou: “Se ameaçarmo-nos ou
matar-nos uns aos outros não ganhamos nada
e a sociedade em nenhum momento estará m
harmonia social. Temos que desenvolver acções
concretas e que promovam a paz e isso
tem que começar com as lideranças políticas”.

Texto de Domingos Nhaúle e Idnórcio Muchanga
Fotos de Jerónimo Muianga

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