Os passos dados nestes últimos dias que apontam para um reinício do diálogo entre o governo e a Renamo, ao seu mais alto nível, são não só desanuviadores do actual clima de tensão, responsável pela regressão da vida económica e político-social dos moçambicanos, como abrem espaço para colectivamente redescobrirmos o que todos dissemos, amiúde, ser o único caminho a seguir, por isso, sem alternativa, o diálogo.
Já na sua visita à província de Cabo Delgado, o presidente da República, Filipe Nyusi, dissera que havia passos dados que apontavam para que os moçambicanos não desesperassem, o que veio a acontecer na semana seguinte, ainda em visita à China, quando um ofício presidencial era, pela primeira vez, respondido em tempo recorde, pela Renamo, através do seu líder, Afonso Dlhakama, ainda enclausurado algures no centro do país.
Na verdade, tratou-se da indicação, pela Renamo, dos três elementos da contraparte da equipa governamental, composta pelo general Jacinto Veloso, membro do Conselho de Defesa e Segurança, órgão constitucional, Benvinda Levi, conselheira do presidente da República e Alves Muteque. Com efeito, foram tornados públicos os nomes dos deputados José Manteigas, António Eduardo Namburete e André Magibire, formando deste modo a Comissão conjunta para a preparação do encontro de Filipe Nyusi com Afonso Dlhakama.
A Comissão reuniu-se quinta-feira passada para definir as modalidades dos encontros que vai ter. O país ainda expectante, entretanto, pelo fim da tensão militar, principalmente na região centro, que acompanhe a vontade expressa sobretudo pela Renamo de participar no diálogo que se espera não seja apenas mais uma desilusão, não sente ainda na vida real e com actos a repercussão da disposição anunciada.
O porta-voz da Renamo, António Muchanga, apressou-se a solicitar uma espécie de trégua nas zonas de conflito, alegadamente porque o cerco ao líder da Renamo, pelas Forças de Defesa e Segurança, na região onde se encontra, está cada vez mais apertado, ao mesmo tempo que a sua organização política intensifica os ataques a civis e propriedades privadas e públicas.
Os moçambicanos desejam que as armas se calem hoje, tanto é que, tal como clamaram durante este tempo, organizados em diferentes grupos políticos, religiosos e outras agremiações da sociedade civil e as lideranças políticas acabam de reconhecer, que só o diálogo nos pode levar à solução das diferenças quer sejam de cariz político-ideológico, quer sejam sociais.
Eis porque o país está de olhos postos no fim imediato do uso da força para justificar alguma razão, mas sim, que esta seja usada para o alcance de mais força e poder. De novo, as esperanças estão depositadas nas lideranças políticas, neste caso do presidente da Renamo armada e no presidente da República, cujos sinais de reaproximação estão a ser aplaudidos por todos moçambicanos, incluindo a diáspora e os amigos verdadeiros de Moçambique.
A próxima reunião está agendada para amanhã, segunda-feira. Para Moçambique e os moçambicanos, as armas deviam se calar hoje!
Texto de Pedro Nacuo
nacuo49nacuo@gmail.com