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Vêm aí os exames

Por admin

Vem aí os exames que são na prática oportunidade final para os alunos mostrarem o que sabem. Que dominam as matérias, que andaram a aprender em ao longo do ano ou do semestre para poderem passar de nível ou de classe. Os exames são uma espécie de tira-teimas para avaliar e verificar o que o aluno andou a fazer durante o período lectivo.

O pontapé de saída para os exames do Sistema Nacional de Ensino (SNE), a nível primário e secundário, assim como de alfabetização e educação de adultos e de formação de professores será dado amanhã, segunda-feira, poucos dias após a divulgação de um inquérito realizado pelo Ministério da Educação e Desenvolvimento Humano, que revela que os maus resultados no ensino em Moçambique têm como principais factores o desinteresse dos alunos e o distanciamento dos pais e encarregados de educação do processo de ensino e aprendizagem. Isto é, os alunos vão à escola mas não se aplicam o suficiente naquilo que o professor lhes transmite, como se fossem para lá apenas por obrigatoriedade e voltados para casa, os adultos nãos lhes exigem contas sobre o que eles aprenderam e nem lhes liga nenhuma em relação à escola.

Os sintomas de mau andamento na educação vêm se revelando há vários anos, tendo, entretanto, se transformado em lugar-comum na sociedade moçambicana. Do tipo: não sabes a matéria, tens más notas, não te aplicas, no fim vamos procurar pelo teu professor para ver se pagamos algum valor para ele fazer-te passar. Não há problema, meu menino.

O ano de 2015 apareceu como o estopim do mau desempenho e consequente péssimo aproveitamento dos alunos submetidos aos exames finais, sendo que os resultados obtidos, especialmente da décima classe, indicaram de forma evidente que algo não andava em conformidade no sector da educação.

Na ocasião, as culpas foram repartidas, de forma empírica, pelos alunos, pais, escolas, ou melhor dizendo, pelo sistema no seu todo, num debate que polarizou as atenções de toda a nação.

Enquanto isso, alguns trabalhos divulgados nos órgãos de comunicação social apresentavam um quadro do sector sedento de medidas arrojadas e urgentes, incidindo tanto no aluno, bem como nos professores.

A teia estendia-se às autoridades da Educação e Desenvolvimento Humano, abrangendo questões metodológicas e de infra-estruturas de funcionamento do ensino no geral.

O quadro é assim: na nossa sociedade, no geral, o problema que nos aflige é a leviandade quando se trata da aquisição do conhecimento. Ainda não se enraizou bastante nas nossas mentalidades que o conhecimento é a maior riqueza de um país. Pode muito bem dizer-se que somos um país de fartos e ricos recursos naturais, carvão, areias pesadas, gás, petróleo e tudo o que se possa elencar das riquezas deste nosso belo país, mas se não houver conhecimento, nunca seremos capazes de sair da pobreza que nos manieta e impede de voar mais alto. Países escassos em recursos naturais se agigantam porque põem a massa-cinzenta a funcionar e virada para resolver os problemas desses países.

 Entre nós não existe a cultura do conhecimento, existe, sim, a cultura do diploma, que até se pode comprar, a cultura da passagem de ano sem aprofundamento dos temas, a matéria dos testes decora-se ou copia-se, que é quase a mesma coisa, mas os alunos não crescem por dentro, os professores vão despejando aqui e acolá meia dúzia de noções mal assimiladas, porque os alunos estão menos atentos ou estão interessados em tudo menos nas aulas.

Já é tempo de pôr as nossas escolas a render em função do conhecimento sustentado. A começar na escola primária, onde o sistema da passagens sempre nos afigurou um verdadeiro escândalo. É, por isso que, perante este panorama e esta mentalidade, um mês a mais ou a menos de aulas não aquece, nem arrefece. Assim não vamos lá. É tomar o secundário pelo principal e subordinar o principal ao acessório.

Porém, este elenco governativo na área de Educação, diga-se de passagem, muito tem feito para inverter esta situação que herdou. Por exemplo, algumas intervenções ora empreendidas poderão (é o que se espera) gerar resultados positivos a médio prazo, a julgar pelos índices avançados recentemente num encontro de avaliação e balanço da formação de professores do ensino primário, ministrada em trinta e oito Institutos de Formação de Professores no país.

No âmbito das medidas correctivas foi introduzida neste ano de 2016, a ‘formação em exercício’, uma capacitação dos professores que passa a ser feita não só nos institutos de formação, mas também dentro das escolas. O objectivo é dotar os formados de técnicas eficazes para desenvolver a leitura, escrita, oralidade e numeracia nos alunos da primeira e segunda classe.

Ora, levar avante a luta para ultrapassar os desafios que dificultam o sucesso no ensino, através da criação de bibliotecas, ampliação do número de salas de aula e da introdução de medidas profícuas para eliminar de forma definitiva comportamentos desviantes no seio dos alunos, como o consumo de álcool e drogas nas escolas, é o que se espera, igualmente, do sector da Educação e Desenvolvimento Humano.

À mesma medida, pleiteia-se que sejam incentivadas as campanhas de sensibilização, veiculando mensagens sobre a importância da escolarização, principalmente em zonas rurais onde pais e encarregados desviam os filhos das actividades escolares para a agricultura ou para os casamentos prematuros, neste caso com maior incidência para as raparigas.

A introdução ou alargamento de actividades paralelas aos curricula vem revelando, também, ser o caminho correcto para o sucesso no ensino e a consequente obtenção de resultados satisfatórios nos exames finais.  

De qualquer modo, cabe aos pais e encarregados de educação monitorar o desempenho dos seus filhos no processo de ensino e aprendizagem, mas, ao mesmo tempo, apela-se ao professor que alargue as suas tarefas, aliando a técnica adquirida durante a sua formação ao papel de zelador da saúde física e psíquica dos seus alunos. 

A sociedade mostra-se ávida por resultados positivos nos exames que amanhã iniciam, como forma de extinguir o manto negro de 2015.

As atenções estão também viradas para as escolas e alunos de zonas afectadas pelo conflito armado, esperando-se que as medidas adoptadas para tornar possível a avaliação final destes alunos sejam bem-sucedidas.

Enquanto isso lança-se um apelo a todos os examinandos a pautarem pela ordem e cumprimento estrito das orientações avançadas pelo MINEDH e se fazerem às salas de exame a tempo e horas, evitando, desse modo incorrer em fraudes académicas.

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