Há sorrisos que escondem dores maiores do que o mundo. Em silêncio, dezenas de mulheres padecem deste mal que, por razões diversas, sem aviso, apossa-se e destrói vidas. Muda destinos. Muda paradigmas e aniquila relações matrimoniais e familiares. Amigos afastam-se. A solidão toma conta da vida e, em casos extremados, há quem decida pôr fim a tudo de forma radical. É que a dor na alma supera, bastas vezes, a dor física. As fístulas, como se sabe, podem ir desde um pequeno orifício, por onde a mulher perde constantemente urina, a uma destruição prolongada da bexiga, da vagina, do recto, períneo e esfincteres, levando à perda de fezes, dificuldades para caminhar. As fístulas comprometem grandemente a condição feminina. A possibilidade de engravidar é reduzida a zero.
Romantismos à parte, estas complicações resultam fundamentalmente da minguada rede de atendimento ao parto baseada em factores sociais, políticos, culturais e económicos. Importa referenciar que a gravidez precoce é um elemento determinante para a subida do número de afectadas pelo mal. Adicione-se também, para além do trabalho de parto prolongado, lesões cirúrgicas acidentais relacionadas com a gravidez e procedimentos invasivos para induzir o aborto. Estes factores agravam-se nas zonas rurais.
O problema físico tem consequências psicológicas devastadoras. Por causa da doença, as vítimas muitas vezes nem sentem as necessidades “descerem”, o que causa um odor forte que repele familiares e amigos, para além dos cônjuges. Assim, estas mulheres vivem em constante confronto com a rejeição generalizada. Do ponto de vista psicológico, estas mulheres vêem-se, assim, confrontadas com o estigma resultante das complicações das suas mazelas, que, muitas vezes, resultam das limitações do nosso sistema de saúde e que as afasta do trabalho e do convívio social. Nessa condição, as mulheres são afastadas dos seus locais de trabalho, estigmatizadas, incompreendidas e, nalgumas vezes, tratadas de forma deshumanizante. Leia mais…
Foto de Jerónimo Muianga