Reza a história Romana que o imperador Júlio César declarou em tribunal que a sua esposa, Pompeia, não deveria estar “nem sob suspeita”, por isso acabou se divorciando, daí a frase “à mulher de César não basta ser honesta, deve também parecê-lo”.
O intróito vem a propósito dos esforços envidados pelo Banco de Moçambique (BM) para salvar o Moza Banco da falência que se anunciava e que poderia arrastar consigo todo o sistema financeiro nacional à sarjeta. É que o Moza é um dos maiores bancos do país e a sua liquidação implicaria uma corrida desenfreada dos clientes aos seus depósitos, o que iria gerar um puro caos.
Este processo foi despoletado em simultâneo com o de um outro banco, de menor dimensão, o Nosso Banco, que, pela precariedade em que estava a ser gerido, e por ser pequeno demais, optou-se pelo seu encerramento, mas no caso do Moza Banco essa opção, por aquilo que nos foi dado a saber, seria catastrófica porque não haveria dinheiro suficiente no sistema financeiro nacional para devolver aos depositantes.
O Banco de Moçambique tomou as medidas que julgou pertinentes e o processo pareceu decorrer sem sobressaltos de vulto, com idas e vindas que pareciam normais, até ao momento em que foi anunciado que quem iria fazer a recapitalização do Moza Banco seria a sociedade que gere o fundo de pensões dos trabalhadores do BM, denominada “Kuhanha”.
Esta decisão pariu uma onda de dúvidas uma vez que a “Kuhanha” (Viver) representa os interesses daqueles que devem prestar atenção ao comportamento de todos os bancos para que não haja derrocadas como a que deu origem a todo este processo.
É de fácil compreensão o interesse que o BM tinha de resolver de uma vez por todas e o mais breve possível a situação calamitosa em que o Moza Banco se encontrava, mas a questão de parecer e do ser, para um processo destes, a envolver as entidades que envolve, deu espaço para avolumados debates nas redes sociais e empoeirou a imagem que todos pretendemos que seja imaculada do Banco de Moçambique e seus competentes profissionais.
Observando o comunicado que anuncia a decisão de entregar a recapitalização ao “Kuhanha”, percebem-se contornos que roçam ao anti-ético (e sobre isso escalpelizamos nas páginas 2 e 3 desta edição). Pena é que o BM, talvez por razões de âmbito estratégico, opte por se escudar num segundo comunicado que reitera toda a posição anterior e dá uma machadada final na conversa.
Por nós, domingo, que somos um jornal que defende o interesse nacional, o Estado de Direito, o Direito à Informação, entre outros, conta muito o facto de se ter encontrado uma solução para o Moza Banco, mas julgamos que melhores esclarecimentos estão em défice nesta matéria.
“Os passos dados e que indiciam, para muitos analistas, violação da lei e da ética, foram superados por uma decisão superior de gestão, a qual evitou o descalabro que se notaria caso esta solução não tivesse tido lugar”, diz o Comunicado do BM.
O assunto está resolvido na perspectiva de gestão, mas deixou aquela dúvida que Júlio César tinha no longínquo ano 67 antes de Cristo e que o atordoou a ponto de se divorciar de Pompeia.