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Renamo abandona o diálogo para matar o povo

Por admin

Duas fortes chancelarias de organizações e países que a Renamo quer que façam parte dos tais observadores internacionais vieram esta semana a terreiro dar um “basta” ao silêncio que mantinham em relação à atitude da “perdiz” de abandonar a mesa do diálogo e optar por atitudes belicistas.

Trata-se da União Europeia (UE) e dos Estados Unidos da América (EUA). A União Europeia, na voz da sua Alta Representante em Maputo, Catherine Ashton, condenou o uso da força para fins políticos e apelou “ao fim imediato dos ataques armados a civis e às forças de segurança governamentais”.

A Embaixada dos Estados Unidos da América (EUA) também alinhou pelo mesmo diapasão e foi mais longe na sua condenação aos actos da Renamo. Os americanos realçam que a presença de homens armados da Renamo em todo o país é “altamente perturbante”.

Apresentamos os nossos sentimentos à família do jovem polícia moçambicano que foi morto ontem em Inhambane, mal começava a servir o seu país”,lê-se na nota emitida pelos americanos,acrescentando que a morte de Alves Filipe, 21 anos, enquadra-se “numa série de eventos trágicos” e preocupantes causados pela violência política constante.

O Governo dos Estados Unidos mostra-se também “bastante alarmado” com os relatos de movimentos de populações vulneráveis nos distritos de Gorongosa, em Sofala, Homoíne e Funhalouro, na província de Inhambane.  “Estas populações foram forçadas a fugir da violência durante esta época essencial de cultivo.  Imploramos a cessação de todas as acções que causem danos ou coloquem as populações em risco”, diz o comunicado.

O comunicado da Embaixada dos Estados Unidos termina afirmando que o fim do actual impasse no diálogo exige a vontade de ambas as partes de se sentarem para negociarem uma solução pacífica e duradoura.

Ora, sabe-se que a Renamo há muito tempo abandonou o local do diálogo no Centro Internacional de Conferências Joaquim Chissano, em Maputo. Todas as segundas-feiras, ao invés de lá se dirigir, concentra-se na sua sede para de lá fazer conferências de Imprensa sem utilidade nenhuma, pois se algo tem a dizer, di-lo no local apropriado, onde se encontra a sua contraparte, que há bastante tempo se manifestou aberta a ouvir, discutir e analisar as posições da “perdiz”, em diálogo construtivo e sério.

Esta semana ainda, perante as duras posições dos americanos e dos europeus, António Muchanga, da Renamo, convocou a Imprensa para dizer que reconhecia que os seus homens têm estado a fazer ataques, mas tais eram uma retaliação à tentativa de assassinato do seu líder. Que grande enormidade. Andar a matar civis para vingar o líder? Aliás, afirmar que muito antes de Santungira os homens armados da Renamo andavam a matar civis no troço Muxúnguè-Save. Recorde-se das pessoas assassinadas há quase dois anos, uma das quais era uma senhora, residente na Matola-Rio, que comprava portas em Nampula e as revendia em Maputo. Depois destes ataques, o próprio Dhlakama apareceu em conferência de Imprensa a reconhecer que tinha dado ordens para se atacar civis.

Face a tudo isto, o que nos oferece dizer é o seguinte: houve tempo em que nos quisemos convencer que Afonso Dhlakama estava a transformar-se num verdadeiro estadista: reflectido, ponderado, com contenção na linguagem, dando mostras de se preocupar com o estudo de alguns “dossiers” e com o povo.

Diga-se, de passagem, e, para evitar mal-entendidos, que, em nossa óptica, verdadeiro estadista não significa apoiar o Partido Frelimo, nem sequer facilitar-lhe o caminho para a reconquista do poder. Verdadeiro estadista é aquele que, através de programas bem planeados, é capaz de dirigir uma equipa, em equipa, com a finalidade de criar condições adequadas ao desenvolvimento do povo moçambicano, por etapas e com objectivos bem definidos, mobilizando-o para as grandes tarefas nacionais, a começar pelas mais urgentes, como é o caso da erradicação da pobreza absoluta e da educação, de uma convivência sã e fecunda na multiculturalidade que nos caracteriza e no respeito pela liberdade, que exige tolerância constante.

A Renamo, enquanto segundo maior partido da oposição, só traz vantagens ao país se se empenhar seriamente em convencer o eleitorado que o seu programa de governação lhe é vantajoso. Só traz vantagens ao país se criticar o poder com verdade, profundidade e empenho, sem demagogias nem falsos populismos, demonstrando a possibilidade de novos caminhos; se denunciar atropelos e corrupções e provar que os vai evitar, começando por dar o exemplo; se se afirmar pela tolerância e vontade de convívio saudável; se se bater intransigentemente por um estado de direito; se apresentar sinais evidentes de que vai implementar as regras da democracia universalmente aceites, uma das quais e base de todas as outras é aceitar os resultados eleitorais, sejam eles quais forem; se se bater pela transparência do sufrágio, o que é perfeitamente possível, sem enveredar pela arruaça, nem pelo banditismo armado, pondo em movimento toda a sua máquina de vigilância em todos os lugares onde há mesas de voto (é assim que deve ser feito em todas as eleições, seja onde for); se deixar de pronunciar ameaças, e pior que isso recorrer às armas para impor as suas posições, matando os próprios eleitores, alguns dos quais, quiçá, votam ou votariam na Renamo, se gostassem do seu programa eleitoral.

Acontece, porém, que Afonso Dhlakama se deixa arrebatar facilmente por emoções incontidas ao serviço da sua sofreguidão pelo poder. A ponderação vem sendo, nele, sol de pouca dura. Por isso estes seus actos banditescos.

Mesmo antes de enveredar por esta via execrável, Dhlakama nunca apresentou nenhum programa de governação. O país não conhece o seu programa de governação. Não sabe o que pensa Afonso Dhlakama, nem a Renamo, sobre os grandes problemas nacionais e qual a solução que apresenta para cada um deles. Que soluções para sairmos da pobreza absoluta? Nada! Que soluções para a Justiça, pedra basilar de toda a convivência democrática e da tranquilidade dos cidadãos? Nada! Que soluções para o ensino? Nada! Que pensa da liberdade de expressão e de informação? Nada! Para onde vai levar a economia? Nada! As relações com o empresariado? Nada! Como vai encarar o sindicalismo? Nada! Que pensa da produtividade, da banca, da necessidade dos investimentos e respectivas fontes, da agricultura, base do sustento nacional, do papel do capital estrangeiro para o desenvolvimento de Moçambique? Nada! Que programa para combater a corrupção? Nada! Qual o seu pensamento em relação à política externa? Nada! Apenas o ouvimos a atacar a Frelimo e a vociferar ameaças.

Em vez de programas e apresentação de soluções por objectivos, Afonso Dhlakama, ensimesmado no seu eu, com evidentes sintomas de paranóia, apenas e, por enquanto, nos diz, afirmando, reafirmando e sublinhando: a solução para os problemas do país sou eu. “O Estado sou eu”, dizia Luís XIV, em França, noutros tempos e não se saiu bem.

Dhlakama impõe: ou fazem isto ou há guerra. Ou fazem aquilo ou eu ataco. Passa por cima de todas as leis. Até da própria lei-mãe, a Constituição da República. Proclama-se pai da democracia, mas não é democrata, nem o quer ser. É mesmo um ditador, dos piores, que massacra o seu próprio povo.

Há uns tempos, antes de enveredar pela via das armas, manifestou sempre supremo desprezo pelos resultados eleitorais e não se cansava de afirmar (e continua a reafirmá-lo) que não ganhava as eleições por causa da fraude. E sempre trovejou ameaças. Insinuou sempre que queria ocupar o poder pela força, o que não tranquiliza ninguém.

Posto isto, daqui lançamos um apelo supremo ao líder da Renamo: deixe de matar e saquear o povo. Deixe de amedrontá-lo com a movimentação dos seus homens armados e activação das suas antigas bases. Saia da toca e se apresente à mesa do diálogo. O povo só tem a ganhar com um seu comportamento sério, credível, responsável, fazendo oposição bem arreigada nos supremos interesses de Moçambique Democrático, mostrando-se disposto a seguir as leis do país, pois, como sói dizer-se: ninguém está acima da lei. Faça isso enquanto é tempo, pois o tempo não espera por ninguém.

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