Moçambique tem sido regularmente chamado à montra internacional para exibir o que de melhor produz na área desportiva, invariavelmente com resultados aquém do desejado. Recentemente, o país fez-se presente com seis atletas nos Jogos Olímpicos do Rio da Janeiro, o que é manifestamente reduzido para um país com tradição desportiva em várias especialidades.
Basta dizer que nos Jogos Desportivos da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), decorridos este ano em Cabo Verde, apenas Portugal superou o nosso país no número de medalhas de ouro, prata e bronze conquistado no conjunto de todas modalidades, nomeadamente futebol, basquetebol, voleibol, andebol, atletismo e taekwondo.
Mais recentemente, a selecção feminina de basquetebol Sub-18 conquistou no Campeonato Africano a medalha de bronze, vencendo no jogo decisivo a sua similar de Angola.
Regressando aos Jogos da CPLP; é importante notar que mais de metade dos atletas vencedores em Cabo Verde foram seleccionados na XIIIª edição do Festival Nacional dos Jogos Desportivos Escolares realizado ano passado na Cidade de Pemba, província de Cabo Delgado.
Infelizmente, estes resultados das equipas jovens já não se verificavam nos seniores, onde a competição é mais a sério e para estar entre os melhores é preciso planificar melhor, ter melhores técnicos e treinar mais. Como isso não acontece, aqui a porca torce o rabo e as diferenças com Angola são abismais, para não falar de Portugal e Brasil?
Pensamos que a primeira razão para isto é a falta de continuidade dos processos de formação dos nossos atletas, uma barreira que definitivamente devemos ultrapassar como país para continuarmos a falar bem alto no concerto desportivo das nações. A preocupação numa boa formação de atletas no país continua a não sair totalmente da intenção para a prática.
O XVI Conselho Coordenador do Ministério da Juventude e Desporto decorrido este ano decidiu a realização duma massificação desportiva a partir das escolas. Concordamos que ao tomar esta direcção, o Governo está a responder globalmente ao problema de selecção, formação e desenvolvimento de talentos desportivos.
Efectivamente, as soluções dos problemas do desporto nacional podem ser encontradas nas escolas, através dum movimento massivo de competições inter-escolares que culmine com a realização dos festivais nacionais, uma vez que as competições entre clubes federados de camadas de formação há muito que deixaram de existir e não se vislumbram para breve.
Depositar exclusivamente nos clubes a responsabilidade de movimentar o desporto de formação é perpetuar uma situação que se revela infrutífera e, mais do que isso, é coarctar o sonho de muitos adolescentes e jovens que podem ter na prática desportiva um futuro brilhante.
O movimento massivo do desporto escolar terá que ser acompanhado necessariamente por um trabalho aturado de disponibilização de infra-estruturas apropriadas para a realização das diferentes especialidades. As escolas que não têm infra-estruturas podem facilmente aproveitar-se das existentes nos clubes ou nas comunidades.
O Governo não pode continuar a atirar a responsabilidade dos resultados desportivos do país ao movimento associativo, com o argumento de que é apenas regulador. É necessário assumir uma atitude mais proactiva que não se limite exclusivamente em financiar e controlar o destino de valores monetários. Se a aposta é mesmo o desporto escolar, é necessário assumir essa decisão com força e com programas e metas bem definidos.
Também importante será a conclusão do Sistema de Formação de Agentes Desportivos, que deverá permitir o país saber quantos árbitros, juízes, gestores e outros agentes o país possui e onde estão a desenvolver a sua actividade. Os professores de Educação Física não podem continuar a ser meros assistentes do desporto federado, devendo estabelecer-se uma ligação entre instituições de formação de professores e outros agentes desportivos, sobretudo os clubes federados.
Contrariamente ao presente, ao nível do topo, os ministérios que tutelam os sectores da Educação e Desporto devem aproximar seus programas e intervenções, porque falando línguas diferentes e actuando com fusos horários também diferentes, torna-se mais difícil preparar um futuro melhor.
Acreditamos que com uma melhor planificação, num futuro próximo o país deixará de ir aos Jogos Olímpicos com apenas seis atletas transportando ambições modestas, até porque a história provou que Moçambique é terra de talentos em várias especialidades. É necessário moldá-los e fazer o devido acompanhamento.