Trezentas e dezassete (317) cartas de condução confiscadas pela Polícia de Trânsito (PT) nas estradas do país na segunda semana do mês de Agosto por condução em estado de embriaguez demonstram nitidamente a irresponsabilidade de centenas de motoristas.
Ainda no período em alusão, vinte e seis pessoas perderam a vida em 44 acidentes de viação registados em todo o país, dos quais resultaram ferimentos em 81 pessoas, 40 das quais em estado grave.
Chegados aqui, há que ter coragem de afirmar alto e a bom som que uma guerrilha urbana está em marcha nas principais estradas do país e, a continuar assim, os acidentes de viação serão responsáveis pelo nascimento de um exército de mutilados, paraplégicos, deprimidos, hipertensos e consequentes enchentes nos serviços de fisioterapia, cardiologia e traumatologia das principais unidades sanitárias do país, já de si abarrotadas.
Talvez cientes da gravidade que a situação atingiu, as instituições ligadas à segurança rodoviária, nomeadamente Instituto Nacional de Transporte Terrestre (INATTER) e a Polícia de Trânsito (PT) têm estado a pôr em prática uma série de iniciativas para reverter este triste cenário.
Desde logo é meritório o facto de a PT ter aumentado o efectivo de agentes reguladores de trânsito em quase todas as estradas do país, sobretudo nas capitais provinciais, onde o número de carros mais do que duplicou.
Neste contexto, e a título ilustrativo, vale a pena mencionar que a INATTER na Cidade de Maputo registou 19.000 novas viaturas em 2013 e 30 mil em 2014. Para este ano (2015) o número deverá rondar os 45 mil.
Entretanto é de aplaudir as jornadas de Segurança Rodoviária que estão em marcha nas escolas primárias ao nível nacional com o envolvimento de professores, estudantes e organizações da sociedade civil onde os miúdos aprendem como e por onde devem atravessar a estrada.
Também é notável o esforço que está a ser feito pela PT ao longo da Estrada Nacional Número 4, na Cidade de Maputo, sobretudo na zona da portagem de Maputo, onde os arrepiantes camiões saídos da África do Sul transportando mercadoria para o Porto de Maputo são agora orientados a rolar mais à esquerda da faixa de rodagem, o que permite a fluidez do tráfego.
Ainda no leque da aclamação, cabe a preocupação que os reguladores de trânsito têm para com o estado mecânico das viaturas que polvilham as estradas, alguns quase a cair de podre.
Nota positiva recai também para os municípios em coordenação com a INATTER, a PT e Administração Nacional de Estradas (ANE) que estão a reforçar a sinalização rodoviária nas principais estradas das cidades e não só.
Mas nem tudo são rosas…
Por exemplo é de todo reprovável a atitude de alguns agentes da Polícia de Trânsito que mandam parar o automobilista com o único propósito de extorquir. A tónica da conversa tem sido invariavelmente esta: “O senhor não tem inspecção. A multa é dois mil meticais, sabias?”. E a seguir é o compasso de espera para ver qual será a atitude do condutor. E porque o dinheiro fácil sabe bem, alguns elementos da polícia de protecção já aprenderam a lição e, como num passe de mágica, lá desponta o famoso “refresco”.
Também é um valente murro no estômago da sociedade quando candidatos a portadores de licença de condução passam fraudulentamente no exame teórico e prático, apesar de introduzido o modelo multimédia de examinação que era crível combater o cambalacho.
Irresponsabilidade é o mínimo que se pode dizer quando alguns instrutores cobram aos instruendos sejam eles candidatos a carta de condução para ligeiros, pesados, públicos ou profissional para que rapidamente cheguem a exame, não se importando com o rol de desgraças que daí poderão advir.
Mas porque “água mole em pedra dura tanto bate que até fura” há que continuar a sensibilizar os automobilistas sobre os perigos que podem advir de uma condução imprudente como uso do telemóvel, aliás, há quem envie SMS, procure a melhor foto do whatsapp para partilhar. É de bradar aos céus.
Das causas que concorrem para os acidentes destaca-se o excesso de velocidade, má travessia do peão, ultrapassagens irregulares e condução em estado ébrio. Aliás, este é o principal calcanhar de Aquiles para a redução da sinistralidade já que aos fins-de-semana muita juventude toma à carraspana, isto é, até cair. Depois é…volante para que vos quero.
Igualmente a entrar na moda está o espectáculo de ralis em locais inapropriados e inseguros, perigando não só os pilotos de ocasião, mas também aos assistentes, os quais, mal avisados, celebram momentos que, no instante seguinte, os podem transformar em desgraçados.
Uns matam-se aos vinte e poucos anos. Algo está errado…
Há que meter o pé no travão na onda de desmandos que concorrem para o alto índice de mortandade nas nossas estradas. O rigor deve começar nas escolas de condução, a polícia de trânsito deve aplicar, com isenção, a lei e, porquê não encontrar penas alternativas à multa para os prevaricadores.
A verdade é uma: não se pode continuar a matar e morrer nas estradas. A sociedade é convocada a engajar-se nesta frente para o bem da nação… afinal muitas vitimas são jovens o que compromete o futuro!