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Moçambola: mais treinos menos viagens

Por admin

Chegou a hora de se fazer um balanço sério ao Moçambola, uma prova que termina, com os habituais prejuízos, não só financeiros mas também no “marcar-passo” – para não falar em retrocesso – no que toca à qualidade e espectacularidade do desporto-rei entre nós.

A prova-mãe do nosso futebol, ao contrário do que recomendam os manuais de desenvolvimento desportivo global, é um símbolo de macrocefalia, sob todos os ângulos que se queira analisar.

Para nós, a competição começa tardiamente, quase no fim do primeiro trimestre de cada ano. Quer dizer, as equipas, os jogadores, ficam uns longos quatro meses sem qualquer competição, a não ser envolver em futebolzinhos, muitas vezes não saudáveis para eles próprios, tipo copa Chinonaquila, Copa isto e copa aquilo, jogando em terrenos que lhes podem causar lesões graves e “baú”…é o fim do futebol.

No meio dessas copas, as associações provinciais, também sem grandes recursos e nem patrocinadores à altura, vão cozinhando torneios de abertura, destinados a rodar jogadores em grande ociosidade. É claro que estes torneios são vistos como de pouca relevância pelos nossos grande clubes que  querem “jogar a sério”, e entretanto,  o “Moçambola” , a contar “quinhentas” para as despesas não arranca.

DINHEIRO DAS EMPRESAS PÚBLICAS

Outro barulho em que está metido o “Moçambola” é o dinheiro das empresas públicas. As contas a serem feitas, certamente que irão apresentar números nada animadores. E o assunto fica bem mais grave, quando se sabe que quem suporta o Moçambola em mais de 80 porcento são empresas públicas, que vivem dos impostos dos cidadãos.

Os CFM, para além da responsabilidade para com os seus ferroviários, ainda abrem os “cordões à bolsa” para patrocinarem a prova com um subsídio à Liga Moçambicana de Futebol. Seguem-se, na mesma linha, a Electricidade de Moçambique, as Linhas Aéreas de Moçambique e a HCB.

As outras representações, que não têm a prerrogativa de se beneficiarem dos dinheiros que, em última análise vêm do bolso do cidadão, alternam-se nas subidas e descidas ao “Moçambola”, ocupando em regra os lugares do fundo da tabela, por dependerem da boa vontade do que ainda resta da “carolisse” no País.

Excepção feita à Liga Desportiva de Maputo, que faz a sua campanha tendo como referência a religião, conseguindo desta forma patrocínios permanentes. Outro clube que vai fazendo pela vida sem os dinheiros do erário público é o Chibuto, que sobrevive graças aos chibutenses mais ou menos abastados que querem ver a sua terra no mapa futebolístico da Nação.

FESTANO NORTE
MARASMO NO SUL

A realidade mostra-nos que os artistas do “Moçambola” não atraem enchentes, sobretudo na Zona Sul do país. De nomes sonantes já quase não reza a maior prova futebolística nacional. As referências que ainda (de)temos e que corporizam os Mambas, jogam fora de portas.

É simplesmente desolador, realizarem-se jogos no majestoso Estádio do Zimpeto, com capacidade para 40 mil pessoas, a que nem mil acorrem. Por vezes abrem-se os portões, mas nem assim os vendedores ambulantes que abundam no mercado informal circunvizinho se sentem atraídos.

A realidade no norte é diferente. Ou pelo menos parece. Os estádios enchem-se, o público vibra. Mas só as receitas poderão ser esclarecedoras. É que, se por um lado a capacidade dos campos é muito limitada, por outro, o número de “borlistas” assusta.

Diz-se que à falta de divertimentos, os nortenhos não têm outra saída que não a deslocação ao futebol, como um ponto de encontro que permite rever amizades e descarregar as tensões da semana.

QUALIDADE CADA VEZ

MAIS DUVIDOSA

Na próxima temporada, regressa uma equipa de Vilankulo. Desta vez é a ENH – Empresa Nacional de Hidrocarbonetos. É o renovar de uma “dor-de-cabeça” para a organização, o movimentar de e para aquele ponto do país para as turmas que irão corporizar a grande prova. O “caloiro” da província de Inhambane, à semelhança do seu antecessor – o Clube de Vilankulo – irá ocupar mais tempo da semana a viajar do que a treinar, uma realidade que fez com que Chiquinho Conde desistisse do projecto de se manter naquela equipa e tentar dar outro gabarito à região que pretendia manter-se no mapa dos maiores do país.

E a pior consequência da realização desta prova nos moldes actuais, é que ensombra quase totalmente os campeonatos provinciais e aumenta a palidez das competições para jovens.

Estamos, portanto, em presença de uma prova despesista que consome valores astronómicos e que não está em condições de produzir e nem incentivar outros níveis de competição e mesmo da recreação.

Assim sendo, há que repensar este figurino. O que gasta e o que rende. Em termos de custos e proveitos. Mas também o seu impacto, onde, quando e como. Sobretudo porque, com diferentes calendários e moldes, já se produziu outro nível de resultados.

O país, com uma configuração e extensão geográfica longilínea aconselha a um repensar. Maior envolvência, fases evolutivas para apurar os mais apetrechados, treinos mais constantes e, finalmente, uma fase “a doer” nos confrontos dos “titãs”, não será este um figurino mais realista, mais capaz de produzir um futebol espectacular e apetecível do que o actual?

Impõe-se uma reflexão mais arrojada e menos comodista. Aqui ficam apenas alguns reparos.

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