Dos fracos não reza a história. Diz-se. E só pode ser verdade. É que olhando para a figura e história de Fidel Castro, “El Comandante”, não se pode obliterar o significado desta sacramental frase. Castro dividiu e continua a dividir opiniões. Para uns ele foi um ditador mas para outros tantos ele é e será sempre o homem que libertou a ilha do jugo opressor de Fulgêncio Batista Zaldívar.
Nascido em Birán, Castro adoptou a política anti-imperialistade esquerdaenquanto estudava Direitona Universidade de Havana. Depois de participar de rebeliões contra os governos de direitana República Dominicanae na Colômbia, planeou o derrube do presidente cubano Fulgêncio Batista, lançando um ataque fracassado ao Quartel Moncada em 1953. Depois de um ano de prisão, viajou para o Méxicoonde formou um grupo revolucionário, o Movimento 26 de Julho, com o seu irmão Raul Castro e Che Guevara. Voltando a Cuba, Castro assumiu um papel fundamental na Revolução Cubana, liderando o movimento em uma guerra de guerrilhacontra as forças de Batista na Sierra Maestra.
Mas os tempos imediatos depois da queda de Batista não foram fáceis para os cubanos. Viveu-se um período algo negro. Lojas vazias, luz intermitente, racionamento de leite e iogurte. Com talento e persistência os cubanos iam resolvendo os seus problemas. A música não faltava. Assim como não faltava a união.
O bloqueio imposto pelos EUA e a queda do muro de Berlim fizeram de Cuba uma “casa” vazia. Não existia quase nada. O que existia em abundância era a dignidade, e isso foi fundamental para os cubanos. O sistema de saúde e educação continuou a funcionar, a taxa de mortalidade infantil continuou mais baixa que a de vários países do primeiro mundo, a alimentação chegou a todos.
Os cubanos são diferentes. No meio das dificuldades, abriram as suas portas para a solidariedade internacional. Milhares de moçambicanos foram à Cuba estudar. Hoje, são muitas figuras de proa no nosso país que viveram várias e enriquecedoras experiências na Ilha da Juventude. Também centenas de médicos cubanos aportaram no nosso país para ajudarem a sarar várias enfermidades. São raros os casos de estudantes, aqui no país, que na década 80 não tiveram, pelo menos, um professor cubano. Eles não parecem deste mundo…
Entretanto, diga-se em abono da verdade, Fidel Castro sempre dividiu opiniões. Para uns, ele é o vilão que reduziu Cuba a uma ilha isolada do resto mundo; para outros, ele foi e será sempre o herói libertador; aquele que contra todas as probabilidades, enfrentou as potências mundiais e ainda abriu-se para a solidariedade com outros povos. Se as palavras não são suficientes para esse olhar, para ver as imagens do enorme cortejo fúnebre que o acompanhou na derradeira viagem que hoje tem o seu ocaso. Depois de dois dias de homenagens póstumas, as cinzas de Fidel Castro deixaram a capital cubana na última quarta-feira, para seguirem pelo país até Santiago de Cuba (leste), berço da revolução, onde devem ser enterradas hoje, domingo, depois de quatro dias de viagem, no cemitério de Santa Ifigenia de Santiago, ao lado do mausoléu de José Martí, herói da independência de Cuba. O funeral irá encerrar o luto nacional de 9 dias decretado após a sua partida aos 90 anos.
“El Comandante”, como era também tratado, embora já estivesse retirado da cena política activa, continuava a ser uma figura altamente influente no sistema de Governação cubana; basta ver que o actual chefe de estado, Raul Castro, é seu irmão. De lucidez exemplar, escrevia ainda a sua crónica no jornal Gramna, onde continuava a pregar o seu “evangelho” socialista.
Com a sua morte há quem anteveja mudanças radicais no xadrez político cubano e no relacionamento desta ilha com o Ocidente. Conjecturas que não são de descartar de todo dada a abertura ensaiada nos últimos anos pelo Presidente Raul Castro mas, como sói dizer-se, a procissão ainda vai no adro!