Esta semana houve mais desenvolvimentos no caminho sinuoso que está a ser trilhado rumo à paz que se espera para breve e que desta vez seja de facto efectiva e duradoira.
Primeiro, o Chefe do Estado, Filipe Nyusi, de visita à Província de Maputo, anunciou na quinta-feira, na Matola, que o Governo vai aceitar a proposta da Renamo quanto à presença de mediadores, se essa for a única condição para o estabelecimento do diálogo com o líder da “perdiz”, sublinhando que sempre esteve disposto para realizar este diálogo, porque entende que há necessidade de a Renamo parar de matar e permitir que os cidadãos circulem livremente e possam produzir para combater a pobreza.
Segundo, na sexta-feira, depois deste pronunciamento do Presidente Nyusi, o líder da Renamo, Afonso Dhlakama, falando em (tele)conferência de Imprensa, disse haver já consensos entre a Renamo e o Governo no que se refere ao alargamento das equipas na Comissão Mista, de modo a debater-se os pontos de agenda acordados entre as partes, antes do encontro entre Nyusi e Dhlakama.
Dhlakama disse ainda que a agenda desta cimeira comportaria essencialmente quatro pontos, nomeadamente, a governação das seis províncias onde a Renamo alega ter ganho as eleições gerais de 2014, a integração dos seus homens nas Forças de Defesa e Segurança e cessação das hostilidades militares e desarmamento das forças residuais da Renamo.
O líder da Renamo anunciou também o alargamento da composição da Comissão Mista que está a preparar o encontro de alto nível, de seis para 12 elementos, seis da Renamo e outros tantos do Governo.
Terceiro, depois de tudo isto, na sexta-feira última, a Comissão Mista para a preparação do encontro entre o Presidente da República, Filipe Nyusi, e o líder da Renamo, acordou, em sessão de trabalho, a inclusão de mediadores ou facilitadores nas conversações, conforme proposta da “perdiz”, e em sessões subsequentes serão discutidos os mecanismos apropriados para o efeito.
É falar que a gente se entende, pois, como aqui já o dissemos, o diálogo é a principal metodologia de solução de conflitos, mas como também já o dissemos, é difícil dialogar com quem de facto não quer dialogar.
Os acontecimentos desta semana são sinais de que de facto, como diz a velha máxima, só falando é que a gente se entende. Estes sinais encorajam o povo que espera um restabelecimento urgente da paz roubada por desentendimentos que nunca deveriam ter levado alguém, que diz amar o seu povo, às matas para emboscar, matar, mutilar, destruir e pilhar bens desse povo que diz amar e quer governar.
Todos nós, moçambicanos, devemos meter na nossa cabeça que precisamos de facto de nos reconciliarmos e trabalharmos afincadamente no sentido de efectivarmos esse bem precioso que é a paz. O Bispo Sengulane até inventou uma fórmula para que todos os dias nós possamos saber que a paz é valorosa. Ao acordar e quando a gente se encontra com outro irmão, devemos dizer OLÁ PAZ.
O moçambicano não deve ser inimigo de outro moçambicano. O debate de ideias com pontos de vista diferentes e/ou divergentes, como se faz no Parlamento, é salutar e não mata ninguém. Mas pegar em armas, sacrificar o povo, para impor ideologias, isso é de todo condenável.
Reconciliação, como já realçamos, não significa ausência de conflitos. Significa, isso sim, aprofundamento das nossas divergências, para serem resolvidas em clima de diálogo que rejeite todo e qualquer ambiente de belicismo armado.
Este belicismo armado está agora localizado na zona Centro do país, onde moçambicanos são mortos, mutilados, há destruições de bens e infra-estuturas, há paralisação da economia, esperando-se que o diálogo ponha fim a esse estado de anormalidade que ofende também a nossa democracia.
Por isso, mais uma vez, aplaudimos estas acções firmes de diálogo anunciados esta semana e que estão a trazer para mais perto de nós a luz da paz que se encontra no fundo do túnel. Como nos princípios dos anos 90 em que se concretizou Roma, todos devemos estar certos de que a guerra a nada conduz e só nos resta o diálogo persistente, humilde, tenaz, sem desfalecimentos.
Assim, todos nós, encorajemos o Presidente Nyusi e o líder da Renamo reafirmando que este é o caminho certo. Saudemos esta porta aberta esta semana que nos pode permitir entrar no edifício da paz, que teremos obrigação de reconstruir todos os dias, com o “Olá Paz” e outras acções, atentos ao circunstancialismo que nos rodeia, pois as circunstâncias podem mudar, mas o espírito deve permanecer.
Entretanto, a Renamo tem de se convencer também de que não pode e nem deve permanecer armada. Partidos armados não são toleráveis em democracia e nem devem existir. É que, como já o dissemos e agora o repetimos, as armas impõem o silêncio ditado pelo vencedor de ocasião, vencedor este que pretende impor o direito da força, recusando a força do direito. Os partidos passam a ser exércitos que se preparam para a guerra. Se se sentam à mesa do diálogo, levam as metralhadoras a tiracolo. A atmosfera envolvente é tecida pelo medo, em vez de favorecer a convivência pacífica. O medo paralisa e destrói, enquanto a convivência pacífica impulsiona a paz e o desenvolvimento. O medo gera a turbulência na sociedade, a convivência pacífica é condição para a construção da liberdade.
A Renamo deve aproveitar esta ocasião para de facto desvestir esse fato que enverga desde a sua fundação, de ser um partido armado e que sempre recorre às armas quando perde eleições. Se ele desvestir rapidamente esse fato, ficará a ganhar Moçambique, ficará a ganhar a Nação. Ficará a ganhar o povo e ficará a ganhar a nossa jovem democracia.