O Povo Moçambicano comemorou ontem o 25 de Junho, o Dia da Independência. Nas cerimónias centrais da celebração desta grande efeméride, o Chefe do Estado, Filipe Nyusi, procedeu ao lançamento do programa comemorativo do 30º aniversário da tragédia de Mbuzine, na qual morreu o fundador do Estado Moçambicano, o Presidente Samora Machel. Este programa vai decorrer sob o lema: “30 Anos de Mbuzini, Celebrando a Vida e Obra de Samora Machel”.
Na exortação que fez ao Povo Moçambicano, o Presidente da República justificou a associação das duas datas da seguinte forma:“celebramos hoje o 41º aniversário da nossa Independência, proclamada pelo saudoso Presidente Samora Moisés Machel no dia 25 de Junho de 1975.No dia 19 de Outubro de 2016 completam-se trinta anos do trágico acidente de aviação que tirou a vida de Sua Excelência Samora Moisés Machel, Primeiro Presidente da República de Moçambique e trinta e três membros da sua comitiva.Não encontramos melhor homenagem que não seja dedicar este dia e este ano àquele que foi o Pai da Nação moçambicana”
Segundo o Chefe do Estado, as celebrações do 25 de Junho deste ano “consagram o seu exemplo como nacionalista convicto, patriota de elevada craveira, líder visionário e Estadista por excelência, o homem que proclamou a Independência Nacional e projectou Moçambique no tempo e no espaço. Nenhum nome se confundiu tanto com o nome de Moçambique. Nenhuma vida se confundiu tanto com os nossos próprios sonhos de liberdade. Trinta anos depois, a sua iluminada palavra continua a ser escutada em todos os recantos da nossa nação. Trinta anos depois as ideias e as profecias de Machel continuam a trazer esperança para todos os patriotas”.
Por isso, a 25 de Junho, em todos os anos, também celebramos Samora. É tempo de festa! Festa do Povo Moçambicano! Nestas alturas, recordámos também que vão longe os tempos em que nos ensinavam que Moçambique, que era a segunda maior colónia, pertencia a Portugal e que nós éramos portugueses. Lembrámos que fazíamos parte desse grande império que congregava, além de Portugal, as suas colónias do Ultramar, conforme se dizia. Era o império das estruturas jurídicas desenhadas pelo Estado colonial-fascista a manietarem as aspirações profundas de um povo que tentaram subjugar, injectando-lhe sangue alheio, incompatível com a sanguinidade original, que o levava à inanição, arrancando-lhe a identidade.
Há 41 anos, com Samora ao leme, o 25 de Junho endireitou a história, dinamitando esse colete de forças jurídicas, e endireitou-a, porque há 54 anos um grupo de jovens, pequenos em quantidade, mas enormes em sonhos de libertação humana, se uniram em movimento que nunca mais parou, fundando a frente de libertação nacional, a FRELIMO.
Eram poucos, mas sabiam que representavam milhões do Rovuma ao Maputo e do Zumbu ao Índico. Eram jovens que sabiam, com o sentimento do poeta, que o “sonho é uma constante da vida tão concreta e definida como outra coisa qualquer, que o sonho é vinho, é espuma, é fermento, bichinho álacre e sedento de focinho pontiagudo, que fossa através de tudo num perpétuo movimento.” E conheciam que os colonialistas sendo fortes em tamanho, em armas e em leis, “não sabiam, nem sonhavam que o sonho comanda a vida e que sempre que um Homem sonha o mundo pula e avança como bola colorida entre as mãos de uma criança.”
A FRELIMO agarrou o sonho que captou nas entranhas do povo, interiorizou-o, semeou-o, massificou-o, injectando-o em estruturas de libertação, verificando por experiência própria que o sangue derramado pelos heróis, se transformava em prodigiosa e abundante semente. Muitos foram aqueles que regaram o chão com o seu próprio sangue para que todo um povo fosse livre de sonhar, construindo-se na sua própria terra.
É claro que a Independência, conquistada com o sangue do povo, encontrou logo à nascença grandes obstáculos. Por exemplo, a fuga de quadros que corporizava o aparelho administrativo colonial e as sabotagens em unidades produtivas. Rodeados por regimes racistas e retrógrados, que nos tinham como maus exemplos para os seus desígnios, estes moveram-nos uma destruidora guerra de desestabilização. Mas resistimos até vencer.
A guerra começou por ser desencadeada a partir da então Rodésia de Ian Smith, quando este regime ilegal se sentiu ameaçado pela recente independência de Moçambique.
Os 16 anos de guerra foram o pior pesadelo que uma Nação a emergir, um Estado a nascer, podiam enfrentar. Milhares de mortes, feridos e estropiados. Milhões de deslocados internos e externos. Infra-estruturas reduzidas a escombros. Nem as estradas, nem as pontes, nem os hospitais, nem as escolas, eram poupados. A população sofria na carne todos os atropelos à sua dignidade. Recém-saída do domínio colonial, via-se impossibilitada de gozar da sua liberdade. E depois, chegou Roma e a paz.
Mas também temos a salientar que ao longo destes 41 anos, houve muitos mais motivos de alegria, de celebração de conquistas trazidas pela Independência, a primeira das quais foi a conquista da própria nacionalidade. A 25 de Junho de 1975, tornámo-nos moçambicanos. Donos da nossa terra e como se diz, donos do nosso próprio nariz. Depois, com a transferência de Cahora Bassa para Moçambique, completou-se mais um acto de libertação.
Impunha-se que Moçambique fosse o dono da HCB, que circunstâncias várias tardaram demasiado a reconhecê-lo. A energia é um sector estratégico do desenvolvimento nacional, factor de soberania, que deve ser dirigida e liderada a partir de dentro. É cada vez mais coração de progresso sustentado. Para além de que Cahora Bassa portuguesa era corpo estranho em organismo incapaz de o digerir, porque contra a sua própria natureza. A reversão de Cahora Bassa a favor de Moçambique foi como se fosse uma espécie de segunda independência, por isso conferiu-se ao acto um significado de soberania.
Assim, celebrar o 25 de Junho, a independência, é celebrar toda essa luta liderada pela Frelimo, cujos homens da linha da frente desse combate ainda se encontram entre nós em grande número.
O 25 de Junho foi a base indispensável para podermos caminhar com os nossos pés e decidirmo-nos pela nossa cabeça. Foi o primeiro dia do resto da nossa vida. Foi uma lição fantástica e, ao mesmo tempo realista, de que os grandes ideais podem ser concretizados por entre perigos, guerras e obstáculos, mais do que parece prometer a força humana.
Este sonho de Independência, carreado para a interioridade do processo de desenvolvimento, continua, hoje, actuante, na persistência da luta contra a miséria e em prol de desenvolvimento do país. Como diz uma velha máxima, um povo com fome não endireita a cabeça. Ajoelha-se perante o benfeitor esmoler.
O 25 de Junho é sinal mais que claro que é possível alcançar mais conquistas que beneficiem o povo neste país, construir a justiça social, enraizar a liberdade no coração dos humanos, criando-lhe condições de expansão, erradicar a ignorância, semear o conhecimento, conhecimento este que, hoje como hoje, é a maior e principal riqueza de um povo. Que é possível edificar um Estado independente e democrático ao serviço dos milhões e milhões de moçambicanos e que este Estado é um processo eficiente e dinâmico e nunca uma conclusão definitiva. Que o Estado está ao serviço da vida em perpétuo movimento e que parar é morrer.