O Governo moçambicano mostrou, uma vez mais, sinais de flexibilidade e responsabilidade ao adiar, por quinze dias, o recenseamento eleitoral, cujo início esteve inicialmente agendado para 30 de Janeiro último.
O adiamento resulta de um pedido expresso da Renamo que quer mais tempo para reorganizar-se e orientar fiscais seus para o acompanhamento, de perto, do processo.
Em Conselho de Ministros extraordinário, o Governo analisou este requerimento da Renamo e, tendo em conta o primado da Lei, acolheu o pedido do partido de Dhlakama.
Duas leituras para esta decisão: o Governo mostrou maturidade, responsabilidade e compromisso com a paz. Cedeu uma vez mais. Mostrou que saber ouvir o outro não é sinal de fraqueza. Antes pelo contrário.
A par disso, revelou espírito de coabitação democrática, assente em corpo são e comprometido com ideais de humanismo.
A outra leitura indica-nos para uma Renamo que parece ter aprendido a lição trazida pelas eleições autárquicas de 20 de Novembro último, nas quais colocou pressupostos intragáveis e inconstitucionais na mesa de diálogo, esticando a corda em demasia.
Consequência: perdeu o comboio da eleição. Muitos deputados seus abandonarão os seus assentos a partir da próxima quinta-feira com o empossamento de novos membros das assembleias municipais nas 52 autarquias do país, excluindo Gúruè que vai a votos .
Dizíamos que a Renamo aprendeu a lição de 20 de Novembro. Mostra agora sinais de arrependimento. Retornou segunda-feira ao diálogo e está, por isso, de parabéns. Nós próprios aplaudimos esta atitude da “perdiz” que parece estar cansada de dar tantos voos na mata.
Entendendo que é na mesa de diálogo onde devem ser limadas as diferenças, a Renamo reuniu-se outra vez com o Governo ontem precisamente para acelerar os entendimentos que precedem o recenseamento eleitoral e outras demarches relativas às eleições presidenciais, legislativas e para as assembleias provinciais.
Vale a pena recordar que o adiamento do recenseamento eleitoral é só por quinze dias e o tempo começa a escassear. Já é possível vislumbrar o comboio a chegar e a Renamo parece não estar interessada em perder a viagem uma vez mais.
Por isso mesmo o encontro de ontem foi descrito pelas partes como “cordial” e “urbano”. A Renamo mostrou vontade de parar com as arruaças, procurando agora consensos que não minem o calendário eleitoral.
Por outras palavras a Renamo mostra vontade de não perder o comboio de 15 de Outubro próximo. Não quer desperdiçar assentos na Assembleia da República. Quer disputar o poder pela via democrática, abandonando os tiros. Esta intenção é de louvar.
Contudo, não podemos perder de vista um facto: a “perdiz” procura imitar o camaleão: caminha lentamente e muda, sistematicamente, de cor. Pode dizer uma coisa hoje e amanhã fazer outra.
Neste ponto, o Governo, uma vez mais, mostrou responsabilidade ao admitir observadores nacionais para acompanharem as conversações. Competirá à estes analisar verificar quem é sério.
Ao que tudo indica, já houve cedências de parte a parte no ponto atinente ao Pacote Eleitoral. A Renamo (ler texto nas páginas 6 e 7) deverá, ela própria, encaminhar o documento contendo propostas de revisão à Assembleia da República que deverá iniciar uma maratona nos dias que se seguem, antecipando as sessões já agendadas ou convocando uma “extaordinária”.
O Governo cedeu no recenseamento eleitoral. Cedeu em alguns pontos atinentes ao Pacote Eleitoral. Exige, após a adopção do documento pela Assembleia da República, o desarmamento imediato e incondicional da Renamo.
Esperamos que a Renamo nos mostre maturidade no ponto que se seguirá nos próximos dias. Queremos ver uma “perdiz” que saberá aprender a viver em ambiente urbano.