O Governo moçambicano, representado pelo Ministro da Economia e Finanças, Adriano Maleiane, foi esta semana à Assembleia da República explicar aos deputados os contornos da dívida pública do país e o que deve ser feito para sanar a actual crise económica em que o país se encontra.
Maleiane disse que uma das coisas que deve ser feita e que não custa dinheiro é a Renamo aceitar o diálogo com o Governo e parar com os ataques a viaturas e pessoas e com a destruição de bens nas nossas estradas.
O governante defendeu que a solução da questão da tensão militar é a mais barata que existe, uma vez que não precisa de gastar dinheiro, bastando que a Renamo volte ao diálogo com o Governo. “Como temos estado a dizer é necessário ter estabilidade na circulação rodoviária. A tensão militar é um problema que temos que resolver, porque não vamos gastar dinheiro. É só sentar e discutir. Portanto, esse é o preço mais barato a pagar e o resto vai se estabilizar”.
Para aquele governante, o elevado custo de vida no país não tem nenhuma relação com as dívidas de que se fala nos últimos tempos, mas sim, é derivado, entre outros aspectos, da não fluidez na circulação rodoviária devido aos ataques da Renamo, associado aos baixos níveis de produção nacional.
Em finais de Abril último, o Primeiro-Ministro, Carlos Agostinho do Rosário, falando também sobre a questão de como lidar melhor com a actual crise económica do país, disse que, as principais soluções (para além do fim do conflito militar) para podermos sair da actual situação são: “(…) alargarmos e diversificarmosa base produtiva, bem como aumentarmos a produtividade da economia nacional, capitalizando as potencialidades das quatro áreas de concentração e catalisadoras sem descurar outras, que o nosso país tem vantagens comparativas que facilmente podem-se converter em vantagens competitivas a saber: Agricultura, Energia, Infraestruturas e Turismo. O financiamento das actividades previstas para estes quatro sectores, em que o Governo vai actuar de forma mais concentrada e catalisadora, será através de linhas de crédito concessionais já identificadas e em negociação com os respectivos financiadores e pelo sector privado, através da Parceria Público-Privado. Melhorar a qualidadee eficiência da despesa pública, com maior impacto no capital humano e operacionalização das quatro áreas de concentração e catalisadoras; eracionalizaçãoda despesa pública.Moçambique é um país potencialmente rico, em recursos humanos e naturais. O potencial agrícola, energético, turístico, bem como a sua localização geoestratégica, fazem do nosso país um verdadeiro e natural ponto de atenção e de atracção de investidores”, defendeu Carlos Agostinho do Rosário.
“Uma das grandes lições a tirar da queda acentuada dos preços das matérias-primas passa, necessariamente, pela aposta na transformação da nossa economia, através da sua diversificação, aumentando a capacidade produtiva e produtividade. A diversificação da nossa economia vai garantir uma base sustentável de produção que garanta a segurança alimentar, substituição de importações e elevação de níveis de exportação, condições essenciais para uma estabilidade macroeconómica, particularmente a taxa do câmbio do Metical e redução do custo de vida e capacidade do país honrar com os seus compromissos referentes ao serviço da dívida”, disse.
Portanto, aqui estão as principais balizas da solução da actual crise. Estão, digamos, os faróis, que iluminam por onde e para onde ir. Nos dizem onde é que nós estamos, para onde queremos chegar e como podemos lá chegar.
Quer dizer, temos que ter a consciência de que para além de todos os esforços que têm de ser feitos para trazer a paz no país, que é um dos desafios essenciais, existem ainda como desafios actuais do país, o alargamento da base produtiva e o aumento da produtividade da economia nacional; a capitalização dos sectores da Agricultura, Energia, Infraestruturas e Turismo; o melhoramento da qualidadee eficiência da despesa pública, com maior impacto no capital humano, racionalizaçãoda mesma e a diversificação da economia nacional, de modo a assegurar uma base sustentável de produção que garanta a segurança alimentar, substituição de importações e elevação de níveis de exportação.
Aqui, nós vamo-nos debruçar apenas sobre a questão da produtividade da economia nacional e da produção no sector agrícola. Isto é, queremos falar da necessidade que há de todos arregaçarmos as mangas e trabalharmos, pois, ninguém há-de vir aqui fazer isso por nós. Tenhamos a certeza disso.
Nestes tempos de crise, temos que interiorizar que o desenvolvimento sustentado, só pode ser levado a cabo com êxito duradoiro, se cada uma das pessoas se capacitar de que é com o trabalho que se vencem os obstáculos. E, com efeito, tomarmos o trabalho como a causa eficiente da produção. E nos parece que esta é uma questão fundamental para a nossa sobrevivência e que tem passado a leste de muitos de nós.
É que se nota nos últimos tempos pouco empenho no trabalho, na disciplina do trabalho, tanto em instituições públicas ou privadas. Vamos avançar aqui alguns exemplos. Um jovem dedicado e competente é nomeado para delegado de uma instituição pública noutra província. Quando chega ao seu novo posto, estranha a fraca assiduidade, a falta de pontualidade e dedicação ao trabalho, a falta de disciplina laboral. Intrigado e irritado com a situação, reúne os funcionários para saber das razões e a única resposta que recebe do colectivo é de que “aqui é assim. Senhor delegado, aqui não vai conseguir mudar nada. Somos assim e prontos!”
Muito já foi dito sobre a necessidade de se cumprir horários e a disciplina laboral, mas das palavras aos actos vai uma grande distância. No emaranhado e sinuoso processo das admissões, com nepotismo e corrupção à mistura, o líder, impotente para tomar decisões e disciplinar funcionários, opta pelo “deixa andar”, “porque eu encontrei isto assim”. As avaliações de desempenho dos funcionários também se enlameiam neste recipiente de negligência e cobertura de indisciplinados e incompetentes.
O privado geralmente se queixa do facto de as suas unidades de produção estarem a ser roubadas ou mesmo saqueadas pelos próprios trabalhadores que as deviam defender para produzirem melhor e prosperarem, porque também constituem o ganho pão da massa laboral e suas famílias. Os esquemas de roubo de matérias-primas ou de produtos acabados, de equipamentos e outros, são engendrados em colectivo dentro das próprias unidades e até já têm denominações próprias do tipo “ways, “boladas” ou “muxuapos”. Tudo isso afecta a produção das nossas unidades produtivas e leva até à falência de algumas. Quer dizer, em vez de o trabalhador se preocupar com a sua produção e produtividade, preocupa-se em lesar a unidade para benefício próprio. Rouba e exige que seja pago salário, porque se este faltar, entra em greve!
Exemplos na área agrícola são vários. Aqui podemos apontar os mais corriqueiros. Na cidade de Maputo, por exemplo, durante muito tempo, havia uma grande cintura verde que abastecia a cidade de produtos frescos. Nestas zonas, nasceram nos últimos anos habitações desordenadas, no salve-se quem poder da ocupação de terrenos. Nas chamadas quintas, também se produziam hortícolas em grande escala. Hoje tudo isso está ocupado pelo betão: casas, pavimentos. Eliminaram-se hortas e pomares. Os habitantes desses locais que eram produtivos, agora, também procuram fruta e produtos frescos no Zimpeto, aumentando as nossas necessidades de importação.
Como dizia o Primeiro-Ministro, Moçambique é um país potencialmente rico, em recursos humanos e naturais. Tem potencial agrícola, energético, turístico. De facto, somos um país essencialmente agrícola com uma extensão de terra tão grande e tão fértil que é um escândalo falar-se em fome no país, mesmo considerando períodos de estiagem e de cheias. Os alimentos brotam da terra e terra é o que mais temos, sendo até propriedade do Estado com obrigação de a conceder ou distribuir baseado em políticas de desenvolvimento em função do homem de carne e osso. Quem cultiva a terra são homens e mulheres, que também temos em abundância.
Se temos o fundamental que faria felizes tantos países em que a terra é um bem sobremaneira escasso e a população está avelhentada, porque é que estamos tão em baixo?
Falta-nos sobretudo trabalho. O arregaçar de mangas em vários níveis e várias frentes da cadeia de produção agrícola. O trabalho é a causa eficiente da produção e quem trabalha é o homem, significando estas palavras tão simples que há que investir também no homem. Preparar-lhe a cabeça para que seja capaz de transformar a natureza a seu favor. Saberá, depois, procurar o capital e a tecnologia.
Há que fazer, por conseguinte, uma revolução na nossa própria mentalidade sobre o valor do trabalho, para adquirirmos uma cultura de trabalho, que faça o país crescer e atingir níveis elevados de desenvolvimento.
Para isso, também precisamos de lideranças. Mas lideranças esclarecidas e apaixonadas pelo seu trabalho, tendo como bússola orientadora o bem comum e não meros interesses umbilicais.
Reconhecemos que só o trabalho não basta. Há necessidade de se lançar mão de técnicas, com um capital a servir de instrumento e meio de sustentação e um conhecimento adequado, por outras palavras, uma formação específica. Se, sem trabalho, nada se faz, também nada se faz sem condições para a rentabilidade desse mesmo trabalho, o mesmo se diga da formação adequada. Sem termos de entrar em grandes teorias, reafirmar que trabalho, formação, técnica e capital, são as alavancas do desenvolvimento. E isto vale tanto para uma empresa macro, como para a micro, mesmo para o cidadão individual que deseje trabalhar por sua conta e risco.