Operadores turísticos das províncias de Maputo, Gaza e Inhambane ficaram literalmente “a ver navios” na última quadra festiva, na sequência do cancelamento das reservas feitas sobretudo por milhares de turistas estrangeiros que habitualmente representam cerca de 70 por cento da facturação do sector hoteleiro nacional.
Despedimentos colectivos, contas malparadas e expectativas goradas caracterizam o sector até há pouco promissor.
Dados avançados ao nosso jornal por fontes ligadas ao sector indicam que, na província de Gaza, a maior parte das estâncias turísticas esteve às “moscas” durante o período que, em condições normais, devia registar o pico de afluência de turistas, nomeadamente a época natalícia e do Fim do Ano.
Aliás, este cenário foi vivido com bastante intensidade na província de Inhambane e no norte da província de Maputo onde, em muitos casos, os turistas nem se dignaram a dizer “não vai dar para vir” e deixaram os gestores dos lodges, resorts e hotéis “na mão”.
“No começo tivemos muita procura, mas na primeira quinzena de Dezembro tivemos cancelamentos. A nossa esperança era que na semana do Fim de Ano o cenário iria mudar para melhor mas, isso não aconteceu, por isso tivemos uma quadra festiva negativa para os operadores turísticos”, disse Rogério Gomes, presidente da Associação Hoteleira de Gaza.
Enquanto os turistas estrangeiros simplesmente optaram pela “falta de comparência”, cerca de cinco mil turistas nacionais, muitos deles idos de Maputo, deram vida à tradicional praia do Bilene, a ponto de gerar engarrafamentos em todas as vias que iam dar ao mar.
Porém, e como se sabe, os banhistas nacionais não morrem de amores pela acomodação em hotéis e lodjes, sobretudo devido à falta de capacidade financeira para enfrentar as diárias que são praticadas, pelo que houve multidão, sim, mas as estâncias turísticas continuaram despidas de clientela.
Por outro lado, e conforme constatação feita no terreno pela nossa equipa de Reportagem, grande parte dos turistas nacionais que afluíram às praias Gaza, e também de Inhambane e Maputo, recorreram ao mesmo truque para fugir às despesas de alimentação. Carregaram o seu farnel e só fizeram fila para adquirir barras de gelo e pouco mais. A escolha de Bilene se deveu ao facto de estar localizada a “um par de quilómetros” de Maputo.
Enquanto isso, a Praia de Chidenguele, uma das mais promissoras e que, em 2012, registou muita afluência de cerca de quatro mil turistas, muitos deles estrangeiros, foi uma das menos procuradas no final de 2013. Durante o período de pico, apenas 1639 escolheram aquele destino para passar fazer a transição de ano e quase todos eram nacionais.
Segundo Rogério Gomes, a expectativa era de elevar o número de visitantes em 2013 mas, “devido aos ataques de Múxungué, em Sofala, e à Tolerância de Ponto que foi anunciada pelo governo com algum atraso, tanto os turistas nacionais como estrangeiros não se fizeram ao local”.
“Se o Governo tivesse avisado que teríamos aquela interrupção, os moçambicanos se teriam organizado no sentido de sair e passar festas fora. Ninguém estava preparado para festejar durante tanto tempo e o resultado foi o que vimos. Algumas praias estavam lotadas mas, todos levavam comidas e bebidas na bagagem”, disse Gomes.
domingoapurou que estavam inscritos nas estâncias turísticas da província de Gaza cerca de quatro mil turistas estrangeiros provenientes da África do Sul, Zimbabwe e de alguns países europeus que geralmente usam Gaza como ponte.
Para Rogério Gomes a manutenção e garantia da paz é a única saída para se inverter o presente quadro em que se está no pico do verão com estâncias turísticas despidas de clientes. “Se isto prevalecer vamos todos à falência”, referiu.
No caso da província de Inhambane, cujo sector de turismo estava em fase de consolidação, na quadra festiva de 2013 houve uma redução de cerca de 60 por cento de visitantes quando comparado com o número de turistas que afluíram àquele destino em 2012, revela Raúfo Ustá, presidente da Associação dos Hotéis de Inhambane, eleito na semana passada na cidade de Inhambane.
O nosso jornal apurou que, ao contrário dos estrangeiros, muitos banhistas nacionais acorreram às principais praias daquela província, mas o número era 50 por cento inferior ao de 2012, sendo que a zona mais afectada pela “crise” foi a norte, nomeadamente Mambone, Inhassoro e Vilankulo.
Segundo Ustá, grande parte dos turistas estrangeiros provenientes de Zimbabwe, África do sul e Malawi entram para o território nacional através das fronteiras terrestres de Mapai, em Gaza, e Machipanda, na província de Manica, e devem cruzar zonas que actualmente estão sob tiroteios perpetrados por homens da Renamo.
“Que turista teria coragem de vir até Inhambane se todos os dias, nos jornais internacionais, são publicadas notícias de guerra em Moçambique e nós nem sequer nos damos ao trabalho de tentar provar que não há guerra no nosso país”, disse o nosso entrevistado.
Das cerca de 500 estâncias existentes em Inhambane a maior parte estão localizadas na zona norte. A título de exemplo, em Inhassoro cerca de 30 por cento das reservas foram canceladas em cima da hora, o mesmo aconteceu em Jangamo com 35 por cento das reservas inutilizadas. Em toda a província cerca de 60 por cento das reservas foram canceladas numa assentada.
Em termos de números de camas, esta província tem a capacidade instalada de seis mil. Em condições normais, este número de camas é insuficiente para albergar os visitantes, mas no ano passado nem metade desta capacidade foi atingida.
Este cenário de 2013 esteve longe de se comparar com o ano 2012, que é tido como um dos melhores neste sector, pois em algumas praias chegou a ser proibida a entrada de carros devido à falta de espaço para o parqueamento, para além de congestionamentos verificados nas estradas de acesso às áreas balneares.
“Os turistas tem os seus motivos para não vir, afinal de contas todos os dias são reportadas notícias que dão conta de que Moçambique está em guerra e eles olham o país como um todo, quando que até o mês de Dezembro essa situação só acontecia em Múxunguè”, disse Raúfo.
O nosso interlocutor acredita que Moçambique devia adoptar uma estratégia para reverter a situação, uma vez que os turistas ficam com medo, preferindo ir até a África do Sul e outros países vizinhos.
Em relação à afluência de turistas nacionais mas, todos carregados de comidas e bebidas, Ustá disse que este cenário só concorre para atrapalhar o sector de restauração e até mesmo às autoridades municipais uma vez que ninguém adquire nada nas restaurantes e bares mas, em contrapartida, as praias ficam repletas de lixo de toda a espécie pois, muitos foram ao extremo de fazer piqueniques nos jardins da cidade.
“Temos ainda a situação de particulares que cedem as suas casas, estes nem contribuem para os cofres do Estado, por isso o Governo devia resolver de uma vez por todas a situação dos informais. Não se pode promover o comércio informal em tudo”, referiu.
Raúfo é da opinião de que o governo devia trazer políticas tributárias mais acessíveis para o sector de turismo e uma cooperação entre os operadores formais e informais, para evitar situações de concorrência desleal. O primeiro passo para a concretização dessa ideia é o registo dos informais.
De referir que turistas de todo mundo escalam a província de Inhambane, com destaque para sul-africanos, portugueses, alemães e franceses, estes últimos tem preferência por mergulho e tem ainda os domésticos.
Angelina Mahumane